| Juan Pablo II, Siervo de Dios | CCLXIV Papa
Karol Wojtyla nasce em 18 de Maio de 1920, em Wadowice, a uns poucos kilómetros de Cracóvia, uma importante cidade e centro industrial ao norte da Polónia.
Seu pai, um homem profundamente religioso, era militar de profissão. Enviuvou quando Karol contava apenas com nove anos. Dele - segundo seu próprio testemunho - recebeu a melhor formação: «Bastava o seu exemplo para inculcar disciplina e sentido do dever. Era uma pessoa excepcional».
De jovem o interesse de Karol dirigiu-se para o estudo dos clássicos, gregos e latinos. Com o tempo foi crescendo nele um singular amor à filologia: em princípios de 1938 muda-se com seu pai para Cracóvia, para matricular-se na universidade Jaghellonica e cursar ali estudos de filologia polaca.
Sem embargo, com a ocupação da Polónia por parte das tropas de Hitler, facto acontecido em 1 de Setembro de 1939, seus planos de estudar filología se veriam definitivamente truncados.
Nesta difícil situação, e com o fim de evitar a deportação para a Alemanha, Karol busca um trabalho. É contratado como operário numa cantera de pedra, vinculada a uma fábrica química, de nome Solvay.
Também naquela difícil época Karol iniciava-se no "teatro da palavra viva", uma forma muito singela de facer teatro: a actuação consistia essencialmente na recitação de um texto poético. As representações se realizavam na clandestinidade, num círculo muto íntimo, pelo risco de ver-se submetidos a graves sanções por parte dos nazis.
Outra importante ocupação de Karol por aquela época era a ajuda eficaz que prestava às famílias judias para que pudessem escapar da perseguição decretada pelo regime nacional-socialista. Pondo em risco sua própria vida, salvaria a vida de muitos judeus.
A princípios de 1941 morre seu pai. Karol contava por então com 21 anos de idade. Este doloroso acontecimento marcará um hiato importante no caminho de sua própria vocação: «depois da morte de meu pai - dirá o Santo Padre em diálogo com André Frossard -, pouco a pouco fui tomando consciência de meu verdadeiro caminho. Eu trabalhava na fábrica e, na medida em que o permitia o terror da ocupação, cultivava o meu gosto às letras e à arte dramática. Minha vocação sacerdotal tomou corpo no meio de tudo isto, como um facto interior duma transparência indiscutivel e absoluta. No ano seguinte, no Outono, sabia já que havia sido chamado. Via claramente que era o que devia abandonar e o objectivo que devia alcançar "sem olhar para trás". Seria sacerdote».
Havendo escutado e identificado com claridade o chamado do Senhor, Karol empreende o caminho de sua preparação para o sacerdócio, ingressando ao seminário clandestino de Cracóvia, em 1942. Dadas as sempre difíceis circunstâncias, o facto de seu ingresso no seminário - que se havia estabelecido clandestinamente na residência do Arcebispo Metropolitano, futuro Cardeal Adam Stepan Sapieha - devia ficar ena mais absoluta reserva, pelo que não deixou de trabalhar como operário em Solvay. Anos de intensa formação transcorreram na clandestinidade até 18 de Janeiro de 1945, quando os alemães abandonaram a cidade ante a chegada da "armada vermelha".
Em 1 de Novembro de 1946, festa de Todos os Santos, chegou o dia ansiado: pela imposição das mãos de seu Bispo, Karol participava desde então - e para sempre - do sacerdócio do Senhor. De imediato o padre Wojtyla foi enviado a Roma para continuar no Angelicum seus estudos teológicos.
Dois anos mais tarde, culminados excelentemente os estudos previstos, volve à sua terra natal: «Regressava de Roma a Cracóvia - disse o Santo Padre em Dom e Mistério - com o sentido da universalidade da missão sacerdotal, que seria magistralmente expresso pelo Concílio Vaticano II, sobretudo na Constituição dogmática sobre a Igreja, Lumen gentium. Não só o Bispo, mas também cada sacerdote deve viver a solicitude por toda a Igreja e sentir-se, de algum modo, responsável dela».
Como Vigário foi destinado à paróquia de Niegowic, onde além de cumprir com as obrigações pastorais próprias da paróquia, assumiu o ensino do curso de religión en cinco escolas elementares.
Passado un ano foi transferido para a paróquia de S. Florián. Entre seus novos trabalhos pastorais lhe tocou fazer-se encarregado da pastoral universitária de Cracóvia. Semanalmente ia dissertando - para a juventude universitária - sobre temas básicos que tocavam os problemas fundamentais sobre a existência de Deus e a espiritualidade do ser humano, temas que eram necessários aprofundar junto com a juventude no contexto do ateísmo militante, imposto pelo regime comunista de turno no governo de Polónia.
Dois anos depois, em 1951, o novo Arcebispo de Cracóvia, mons. Eugeniusz Baziak, quis orientar o labor do padre Wojtyla mais além da investigação e da docência. Não sem um grande sacrifício de sua parte, o padre Karol teve de reduzir notavelmente o seu trabalho pastoral para dedicar-se ao ensino de Ética e Teología Moral na Universidade Católica de Lublín. A ele se encomendou a cátedra de Ética. Seu labor docente o exerceu posteriormente também na Faculdade de Teologia da Universidade Estatal de Cracóvia.
Nomeaado Bispo pelo Papa Pío XII, foi consagrado em 23 de Setembro de 1958. Foi então destinado como Bispo auxiliar na diocese de Cracóvia, ficando a cargo da mesma em 1964. Dois anos depois, a diocese de Cracóvia seria elevada ao grau de Arquidiocese pelo Papa Paulo VI.
Seu labor pastoral como Bispo esteve marcada por sua preocupação e cuidado para com as vocações sacerdotais. Neste sentido, seu infatigável labor apostólico e seu intenso testemunho sacerdotal deram lugar a uma abundante resposta de muios jóvens que descobriram o seu chamado ao sacerdócio e tiveram a coragem de segui-lo.
Assim mesmo, já desde então destacava entre suas grandes preocupações a integração dos laicos nas tarefas pastorais.
Mons. Wojtyla terá uma activa participação no Concilio Vaticano II. Além de suas intervenções, que foram numerosas, foi eleito para formar parte de três comissões: Sacramentos e Culto Divino, Clero e Educação Católica. Assim mesmo formou parte do comité de redacção que teve a seu cargo a elaboração da Constitução Pastoral Gaudium et spes.
É criado Cardeal pelo Papa Paulo VI em 1967, um ano chave para a Igreja peregrina em terras polacas. Foi então que a Sede Apostólica pôs em marcha sua conhecida Ostpolitik, dando início a um importante "degelo" a nível das frias relações entre a Igreja e o Estado comunista. O flamante Cardeal Wojtyla assumiria um importante papel neste diálogo, e sem dúvida respondeu a esta difícil e delicada tarefa com muita coragem e habilidade. Sua postura - a postura em representação da Igreja - era a mesma que havia sido tomada também por seus exemplares predecessores: a defesa da dignidade e direitos de toda a pessoa humana, assim como a defesa do direito dos fieis a professar livremente a sua fé.
Sua sagacidade e tenacidade lhe permitiram obter também outras significativas vitórias: após largos anos de esforços, contra a persistente oposição das autoridades, teve o grande gozo de inaugurar uma igreja em Nowa Huta, uma "cidade piloto" comunista. Os muros desta igreja, qual símbolo silencioso e eloquente da vitória da Igreja sobre o regime comunista, haviam sido levantados com mais de dois milhões de pedras talhadas voluntariamente pelos cristãos de Cracóvia.
Enquanto a pastoral de sua arquidiocese, em contínuo crescimento de cuidado plantava ao Cardeal muitos direitos. Ele motivou a que com habitual frequência reunisse o seu presbitério para analizar as diversas situações, com o objecto de responder adequada e eficazmente aos desafíos que se iam apresentando.
Em 1975 assiste ao III Simpósio de Bispos Europeus. Ali é nele que se confía a colocação introdutória: «O Bispo como servidor da fé». Esse mesmo ano dirige os exercícios espirituais para Sua Santidade Paulo VI e para a Cúria vaticana. As práticas que deu naquela ocasião foram publicadas num livro intitulado Sinal de contradição.
João Paulo II. Sucessor de Pedro
Eleito pontífice em 16 de Outubro de 1978, escolheu os mesmos nomes que havia tomado o seu predecessor: João Paulo. Numa formosa e profunda reflexão, deixa pública em sua primeira encíclica (Redemptor hominis), dirá o mesmo sobre o significado deste nome:
«era o dia 26 de Agosto de 1978, quando ele (o então eleito Cardeal Albino Luciani) declarou ao Sacro Colégio que queria chamar-se João Paulo - um binómio deste género não tinha precedentes na história do Papado- divisei nele um auspício eloquente da graça para o novo pontificado. Dado que aquele pontificado durou apenas 33 dias, me toca a mim não só continuá-lo mas também, em certo modo, assumi-lo desde o seu mesmo ponto de partida. Isto precisamente ficou corroborado pela minha eleição daqueles dois nomes. Com esta eleição, seguindo o exemplo de meu venerado Predecessor, desejo igualmente expressar meu amor pela singular herança deixada à Igreja pelos Pontífices João XXIII e Paulo VI e ao mesmo tempo meu pessoal disponibilidade a desenvolvê-la com a ajuda de Deus. Através destes dois nomes e dois pontificados ligados com toda a tradição desta Sede Apostólica, com todos os Predecessores do século XX e dos séculos anteriores, enlaçando sucessivamente, ao largo das distintas épocas até as mais remotas, com a linha da missão e do ministério que confere a Sede de Pedro um posto absolutamente singular na Igreja. João XXIII e Paulo VI constituem uma etapa, a que desejo referir-me directamente como a umbral, a partir do qual quero, em certo modo em união com João Paulo I, prosseguir até ao futuro, deixando-me guiar pela confiança ilimitada e pela obediência ao Espírito que Cristo há prometido e enviado a sua Igreja (...). Com plena confiança no Espírito de Verdade entro pois na rica herança dos recentes pontificados. Esta herança está vigorosamente enraízada na consciência da Igreja de um modo totalmente novo, jamais conhecido anteriormente, graças ao Concílio Vaticano II».
"Não tenhais medo"
Foram estas as primeiras palavras que S.S. João Paulo II lançou ao mundo inteiro desde a Praça de S. Pedro, naquela memorável homília celebrada com ocasião da inauguração oficial de seu pontificado, em 22 de Outubro de 1978. E são certamente estas mesmas palavras as que há feito ressoar uma e outra vez nos corações de inumeráveis homens e mulheres de nosso tempo, alentando-nos - sem cair em pessimismos nem ingenuidades - a não ter medo "a verdade de nós mesmos", medo "do homem nem do que ele há criado": «"não tenhais medo de vós mesmos"». Desde o início de seu pontificado há sido esta sua firme exortação a confiar no homem, desde a humilde aceitação de sua contingência e também de seu ser pecador, mas dirigindo desde ali o olhar ao único horizonte de esperança que é o Senhor Jesus, vencedor do mal e do pecado, autor de uma nova criação, de uma humanidade reconciliada por sua morte e ressurreição. Seu chamado é, por isso mesmo, um chamado a não ter medo a abrir de par em par as portas ao Redentor, tanto dos próprios corações como também das diversas culturas e sociedades humanas.
Este chamado que há dirigido a todos os homens deste tempo, é por sua vez uma enorme exigência que ele mesmo se impôs amorosamente. Com efeito, «o Papa - disse ele de si mesmo -, que começou Seu pontificado com as palavras "Não tenhais medo", procura ser plenamente fiel a tal exortação, e está sempre disposto a servir o homem, as nações, e a humanidade inteira no espírito desta verdade evangélica».
Desde "um país longínquo"
«Chamaram-me de uma terra distante, distante mas sempre próxima na comunhão da Fé e Tradição cristãs». Foram estas, no início de seu pontificado, as palavras do primeiro Papa não italiano desde Adriano VI (1522).
João Paulo II nasceu em Polónia, uma extraordinária nação que por sua fidelidade à fé, posta no crisol da prova muitas vezes, chegou a ser considerada como um "baluarte da cristandade", do "Semper fidelis" com que orgulhosamente qualificam os católicos polacos a sua pátria. A personalidade de S.S. João Paulo II está selada pela identidade e cultura próprias de sua Polónia natal: uma nação con raízes profundamente católicas, cuja unidade e identidade, mais que em seus límites territoriais, se encontra em sua história comum, em sua língua e na fé católica.
Sua origem, ao mesmo tempo, o une aos povos eslavos, evangelizados faz onze séculos pelos santos irmãos Cirílo e Metódio. Será casualmente «recordando a inestimável contribuição dada por eles à obra do anúncio do Evangelho naqueles povos e, ao mesmo tempo, a causa da reconciliação, da convivência amistosa, do desenvolvimento humano e do respeito à dignidade intrínseca de cada nação», que sua S.S. João Paulo II proclamou aos santos Cirílo e Metódio co-patronos de Europa, junto a S. Benito. A eles, está dedicada sua formosa encíclica Slavorum apostoli, em que faz explícita esta gratidão: «se sente particularmente obrigado a ele o primeiro Papa chamado à sede de Pedro desde Polónia e, portanto, de entre as nacões eslavas».
Uma nação provada na sua fé
"O novo Papa era um homem que havia podido conhecer «desde dentro, os dois sistemas totalitários que hão marcado tragicamente nosso século: o nazismo de uma parte, com os horrores da guerra e dos campos de concentração, e o comunismo, de outra, com seu regime de opressão e de terror». Ao largo daqueles anos de prova, a personalidade de Karol foi forjada nocrisol da dor e do sofrimento, sem perder jamais a esperança, nutrida na fé. Esta experiência vivida em sua juventude nos permite compreender sua grande «sensibilidade pela dignidade de toda pessoa humana e pelo respeito de seus direitos, começando pelo direito à vida». Sua encíclica Evangelium vitae é a expressão magisterial mais firme e acabada desta profunda sensibilidade humana e pastoral.
Graças àquelas dramáticas experiências que viveu naqueles tempos terriveís «é fácil entender também minha preocupação pela família e pela juventude». Esta preocupação, por sua parte, teve a sua mais ampla expressão magisterial na encíclica Familiaris consortio.
Improntas do pontificado de João Paulo II
A vida cristã e a Trindade: Deus é Pai, Filho e Espírito Santo
O Papa João Paulo II quis fazer evidente desde o início do seu pontificado a relação existente - ainda que talvez tantas vezes esquecida ou relegada - da vida da Igreja (e de cada um de seus filhos) com a Trindade, dedicando suas primeiras encíclicas a aprofundar em cada uma das três pessoas da Trindade: uma a Deus Pai, rico em misericórdia (1980); outra ao Filho, Redentor do mundo (1979); e outra ao Espírito Santo, Senhor e dador de vida (1986). Este é o mistério central da fé cristã: Deus é um só, mas à vez três Pessoas. Recorda assim as bases da verdadeira fé, e com ela o fundamento da autêntica vida da Igreja e de cada um de seus filhos: em efeito, não se entende a vida do cristão se não é em relação com Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, Comunhão de Amor.
"Totus Tuus"... um Papa selado pelo amor à Mãe
Totus Tuus, o Todo teu (com evidente referência a Maria), foi o lema eleito por Sua Santidade João Paulo II ao assumir o leme da barca de Pedro. Deste modo se consagrava a Ela, se acolhia a seu terno cuidado e intercessão, convidando-a a selar com sua amorosa presença maternal a inteira trajectória de seu pontificado. Por ocasião da Eucaristía celebrada em 18 de Outubro de 1998, aos vinte anos de sua eleição e aos 40 anos de haver sido nomeado bispo, reiterará na Praça de S. Pedro esse "Totus Tuus" ante o mundo católico.
Em outra ocasião havia dito o mesmo com respeito a esta frase: «Totus Tuus. Esta fórmula não tem somente um carácter piedoso, não é uma simples expressão de devoção: é algo mais. A orientação até uma devoção tal se afirmou em mim no período em que, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhava como operário em uma fábrica. Num primeiro momento me havia parecido que devia afastar-me um pouco da devoção mariana da infância, em benefício de um cristianismo cristocêntrico. Graças a S. Luis Grignon de Montfort comprendí que a verdadeira devoção à Mãe de Deus é, sen embargo, cristocéntrica, mais ainda, que está profundamente radicada no Mistério trinitario de Deus, e nos mistérios da Encarnação e a Redenção. Assim pois, redescobri com conhecimento de causa a nova piedade mariana, e esta forma madura de devoção à Mãe de Deus me há seguido através dos anos: seus frutos são a Redemptoris Mater e a Mulieris dignitatem».
Outro sinal de seu amor filial a Santa María é seu escudo pontifício: sobre um fundo azul, uma cruz amarela, e sob o madeiro horizontal direito, uma "M", también amarela, representando a Mãe que estava "ao pé da cruz", onde - no dizer de S. Paulo - em Cristo estava Deus reconciliando o mundo consigo. En sua surpreendente simplicidade, seu escudo é, pois, uma clara expressão da importância que o Santo Padre lhe reconhece a Santa María como eminente cooperadora na obra da reconciliação realizada por seu Filho.
Seu escudo se alça ante todos como uma perene e silenciosa profissão de um amor terno e filial à Mãe do Senhor Jesus, e à vez, é um constante convite a todos os filhos da Igreja para que reconheçamos seu papel de cooperadora na obra da reconciliação, assim como sua dinámica função maternal para com cada um de nós. Com efeito, «entregando-se filialmente a Maria", o cristão, como o apóstolo João, "acolhe entre suas coisas próprias" a Mãe de Cristo e a introduz em todo o espaço de sua vida interior, é dizer, no seu "eu" humano e cristão: "A acolheu em sua casa". Assim o cristão, trata de entrar no raio de acção daquela "caridade materna", com que a Mãe do Redentor "cuida dos irmãos de seu Filho", "a cuja geração e educação coopera" segundo a medida do dom, própria de cada um pela virtude do Espírito de Cristo. Assim se manifesta também aquela maternidade segundo o espírito, que há chegado a ser a função de Maria aos pés da Cruz e no cenáculo».
O aprofundamento da teologia e da devoção mariana - em fiel continuidade com a ininterrupta tradição católica - é uma impronta muto especial da pessoa e pontificado do Santo Padre.
Homem do perdão; apóstolo da reconciliação
Talvez muitos jóvens desconheçam o atentado que o Santo Padre sofreu aqueel já longínquo 13 de Maio de 1981, às mãos de um jovem turco, de nome Alí Agca. Então, guardando-o milagrosamente da morte, se manifestou a Providência divina que concedia a seu eleito ua invalorável ocasião para experimentar en si mesmo a dor e sofrimento humano - físico, psicológico e também espiritual - para poder melhor associar-se à cruz do Senhor Jesus e solidarizar-se mais ainda com tantos irmãos doentes. Fruto desta experiência vivida com um profundo horizonte sobrenatural será sua formosa Carta Apostólica Salvifici doloris.
Aquele facto foi também uma magnífica oportunidade para mostrar ao mundo inteiro que ele, fiel discípulo ol Mestre, é um homem que não só chama a viver o perdão e a reconciliação, mas que ele mesmo o vive: uma vez recuperado, num gesto autênticamente cristão e de enorme grandeza de espírito, o Santo Padre se acercou a seu agressor - recluso na prisão - para oferecer-lhe o perdão e constituir-se ele mesmo num testemunho vivo de que o amor cristão é maior que o ódio, de que a reconciliação - ainda que exigente - pode ser vivida, e de que este é o único caminho capaz de converter os corações humanos e de trazer-lhes a paz tão ansiada.
Servidor da comunhão e da reconciliação
O desejo de convidar a todos os homens a viver um processo de reconciliação com Deus, com os irmãos humanos, consigo mesmos e com a inteira obra da criação deu pé a numerosas exortações neste sentido. Ocupa um singular lugar sua Exortação Apostólica Post-Sinodal Reconciliatio et paenitentiae - sobre a reconciliação e a penitência na missão da Igreja hoje (se nutre da reflexão conjunta que fizeram os bispos do mundo reunidos en Roma no ano 1982 para a VI Assembleia Geral do Sínodo de Bispos)-, e tem um peso singularmente importante a declaração que fizera no Congresso Eucarístico de Téramo, o 30 de Junho de 1985: «Pondo-me à escuta do grito do homem e vendo como manifesta nas circunstâncias da vida uma nostalgia de unidade com Deus, consigo mesmo e com o próximo, hei pensado, por graça e inspiração do Senhor, propor com força esse dom original da Igreja que é a reconciliação».
A preocupação social de S.S. João Paulo II
A encíclica Centessimus annus, que comemora o centésimo ano desde o início formal do Magistério Social Pontificio com a publicação de encíclica Rerum novarum de S.S. León XIII, se há constituido no último grande aporte de S.S. João Paulo II no que toca ao dito Magistério. Nela escrevia: «... desejo antes de tudo satisfazer a divida de gratidão que a Igreja inteira h contraído com o grande Papa (León XIII) e com seu "imortal Documento". É também meu desejo mostrar como a rica seiva, que sobe desde aquela raíz, não se esgotou com o passo dos anos, mas que, pelo contrário,se fez maiss fecunda».
Indubitavelmente enriquecido por sua própria experiência como operário, e em sua particular cercania com seus companheiros de labuta, a grande preocupação social do actual Pontífice já havia encontrado outras duas ocasiões para manifestar-se ao mundo inteiro no que toca ao magistério: a encíclica Laborem exercens, sobre o trabalho humano, e a encíclica Sollicitudo rei socialis, sobre os problemas actuais do desenvolvimento dos homens e dos povos.
A nova evangelização: tarefa principal da Igreja
Desde o início de seu pontificado o Papa João Paulo II tem estado empenhado em chamar e comprometer a todos os filhos da Igreja na tarefa de uma nova evangelização: «nova em seu ardor, em seus métodos, em sua expressão».
Mas, como recorda o Santo Padre, «se a partir da Evangelii nuntiandi se repete a expressão nova evangelização, isso é somente no sentido dos novos reptos que o mundo contemporáneo apresenta à missão da Igreja» ... «Há que estudar a fundo - disse o Santo Padre - en que consiste esta Nova Evangelização, ver seu alcance, seu conteúdo doutrinal e implicações pastorais; determinar os "métodos" mais apropriados para os tempos en que vivemos; buscar uma "expressão" que a acerque mais à vida e às necessidades dos homens de hoje, sem que por ele perca nada de sua autenticidade e fidelidade à doutrina de Jesus e à tradição da Igreja».
Nesta tarefa o Papa João Paulo II tem uma profunda consciência da necessidade urgente do apostolado dos laicos na Igreja, preocupação que se reflete claramente na sua Encíclica Christifideles laici e no impulso que surgiu dando ao desenvolvimento dos diversos Movimentos eclesiais. Por isso mesmo, na tarefa da nova evangelização «a Igreja trata de tomar uma consciência mais viva da presença do Espírito que actua nela (...) Um dos dons do Espírito a nosso tempo é, certamente, o florescimento dos movimentos eclesiais, que desde o início de meu pontificado hei assinalado e sigo assinalando como motivo de esperança para a Igreja e para os homens».
Mas S.S. João Paulo II não entende a nova evangelização simplesmente como uma "missão hacia afuera": a missão hacia adentro (é dizer, a reconciliação vivida no ámbito interno da mesma Igreja) há sido também destacada pelo Santo Padre como uma urgente necessidade e tarefa, pois ela é um sinal de credibilidade para o mundo inteiro. Desde esta perspectiva há que compreender também o forte empenho ecuménico alentado pelo Santo Padre, muito na linha.
"Que todos sejam um"
O Santo Padre, como Cristo o Senhor faz dois mil anos, segue elevando também hoje ao Padre esta fervente súplica: «¡Que todos sejan um (Ut unum sint)… para que o mundo creia!». Como incansável artesão da reconciliação, o actual Sucessor de Pedro há vindo trabalhado desde o início de seu pontificado por lograr a unidade e reconciliação de todos os cristãos entre si, sem que ele signifique de nenhum modo claudicar a Verdade: «O diálogo - disse Sua Santidade aos bispos austriacos, em 1998 -, a diferença de uma conversação superficial, tem como objectivo o descobrimento e o reconhecimento comum da verdade. (…) A fé viva, transmitida pela Igreja universal, representa o fundamento do diálogo para todas as partes. Quem abandona esta base comum elimina de todo diálogo na Igreja a possibilidade de converter-se em diálogo de salvação. (…) ninguém pode desempenhar sinceramente um papel num processo de diálogo se não está disposto a expor-se à verdade e a crescer nela».
Renovado impulso à catequese
Como dice el Santo Padre, la Encíclica Redemptoris missio quiere ser -después de la Evangelii nuntiandi- «una nueva síntesis de la enseñanza sobre la evangelización del mundo contemporáneo».
Por otro lado, la Exhortación Apostólica Catechesi tredendae es un intento -ya desde el inicio de su pontificado- de dar un nuevo impulso a la labor pastoral de la catequesis.
El Santo Padre, desde que asumió su pontificado, ha mantenido las catequesis de los miércoles iniciadas por su predecesor Pablo VI. En ellos ha desarrollado principalmente el contenido del "Credo".
En este mismo sentido el Catecismo de la Iglesia Católica -aprobado por el Santo Padre en 1992- ha querido ser «el mejor don que la Iglesia puede hacer a sus Obispos y a todo el Pueblo de Dios», teniendo en cuenta que es un «valioso instrumento para la nueva evangelización, donde se compendia toda la doctrina que la Iglesia ha de enseñar».
O Papa peregrino
Quizá más de uno se ha preguntado sobre el sentido de los numerosos viajes apostólicos que ha realizado el Santo Padre (más de doscientos, contando sus viajes al exterior como al interior de Italia):
«En nombre de toda la Iglesia, siento imperioso el deber de repetir este grito de san Pablo («Predicar el Evangelio no es para mí ningún motivo de gloria; es más bien un deber que me incumbe: Y ¡ay de mi si no predicara el Evangelio!»). Desde el comienzo de mi pontificado he tomado la decisión de viajar hasta los últimos confines de la tierra para poner de manifiesto la solicitud misionera; y precisamente el contacto directo con los pueblos que desconocen a Cristo me ha convencido aún más de la urgencia de tal actividad a la cual dedico la presente Encíclica (Redemptoris missio)».
Asimismo dirá el Papa de sus numerosas visitas a las diversas parroquias: «la experiencia adquirida en Cracovia me ha enseñado que conviene visitar personalmente a las comunidades y, ante todo, las parroquias. Éste no es un deber exclusivo, desde luego, pero yo le concedo una importancia primordial. Veinte años de experiencia me han hecho comprender que, gracias a las visitas parroquiales del obispo, cada parroquia se inscribe con más fuerza en la más vasta arquitectura de la Iglesia y, de este modo, se adhiere más íntimamente a Cristo».
S.S. João Paulo II e os jóvens
Desde 1985 la Iglesia ha visto surgir las Jornadas Mundiales de los Jóvenes. Su génesis -recuerda el Santo Padre- fue el Año Jubilar de la Redención y el Año Internacional de la Juventud, convocado por la Organización de las Naciones Unidas en aquel mismo año:
«Los jóvenes fueron invitados a Roma. Y éste fue el comienzo. (...) El día de la inauguración del pontificado, el 22 de octubre de 1978, después de la conclusión de la liturgia, dije a los jóvenes en la plaza de San Pedro: "Vosotros sois la esperanza de la Iglesia y del mundo. Vosotros sois mi esperanza"».
Mestre de ética e valores
También en nuestro siglo, y con sus particulares notas de gravedad, el Santo Padre ha notado con paternal preocupación como el hombre ha "cambiado la verdad por la mentira". Consecuencia de este triste "cambio" es que el hombre ha visto ofuscada su capacidad para conocer la verdad y para vivir de acuerdo a esa verdad, en orden a encontrar su felicidad en la plena realización como persona humana. La publicación de la Encíclica Veritatis splendor constituye la plasmación de un testimonio ante el mundo del esplendor de la Verdad. En ella se descubren las enseñanzas de quien fuera un notable profesor de ética, que en su calidad de Sumo Pontífice sale al encuentro del relativismo moral a que ha llegado la cultura de hoy: «Ningún hombre puede eludir las preguntas fundamentales: ¿qué debo hacer?, ¿cómo puedo discernir el bien del mal? La respuesta sólo es posible gracias al esplendor de la verdad que brilla en lo más íntimo del espíritu humano… La luz del rostro de Dios resplandece con toda su belleza en el rostro de Jesucristo… Él es "el Camino, la Verdad y la Vida". Por esto la respuesta decisiva de cada interrogante del hombre, en particular de sus interrogantes religiosos y morales, la da Jesucristo; más aún, como recuerda el Concilio Vaticano II, la respuesta es la persona misma de Jesucristo: "Realmente, el misterio del hombre sólo se esclarece en el misterio del Verbo encarnado…"». A lo largo de toda su encíclica el Santo Padre, con desarrollos magistrales, se ocupa de presentar un horizonte ético -en íntima conexión con la verdad sobre el hombre- para el pleno desarrollo de la persona humana en respuesta al designio divino.
Incansavel Servidor da fé e da Verdade
A los veinte años de su elevación al Solio Pontificio, el Papa Juan Pablo II -como un incansable Maestro de la Verdad- ha dado a conocer al mundo entero su decimotercera encíclica: Fides et ratio, fe y razón. En ella presenta en forma positiva la búsqueda de la verdad que nace de la naturaleza profunda del ser humano. Sale al paso de múltiples errores que actualmente obstaculizan el acceso a la verdad, y más aún a la Verdad última sobre Dios y sobre el hombre que como don gratuito Dios mismo ha ofrecido a la humanidad entera a través de la revelación. La verdad, la posibilidad de conocerla, la relación entre razón y fe, entre filosofía y teología son temas que va tocando en respuesta a la situación de enorme confusión, de relativismo y subjetivismo en la que se encuentra inmersa nuestra cultura de hoy.
Trabalhando pela consolidação dos frutos do Concílio Vaticano II
El Santo Padre ha sido un incansable artesano que ha trabajado, a lo largo de los ya veinte años de su fecundo pontificado, en favor de la profundización y consolidación de los abundantísimos frutos suscitados por el Espíritu Santo en el Concilio Vaticano segundo. Al respecto ha dicho él mismo: «Es indispensable este trabajo de la Iglesia orientado a la verificación y consolidación de los frutos salvíficos del Espíritu, otorgados en el Concilio. A este respecto conviene saber "discernirlos" atentamente de todo lo que contrariamente puede provenir sobre todo del "príncipe de este mundo". Este discernimiento es tanto más necesario en la realización de la obra del Concilio ya que se ha abierto ampliamente al mundo actual, como aparece claramente en las importantes Constituciones conciliares Gaudium et spes y Lumen gentium».
Com S.S. João Paulo II até ao terceiro milénio
O Papa João Paulo II, mediante sua Carta apostólica Tertio millenio adveniente, convidou a toda cristandade a preparar-se para o que será uma grande celebração e comemoração: três anos hão sido dedicados por desejo explícito do Sumo Pontífice à reflexão e aprofundamento em torno a cada uma das Pessoas divinas do Mistério da Santíssima Trindade: 1997 foi dedicado ao Filho, 1998 ao Espírito Santo e 1999 ao Pai. Deste modo a Igreja se prepara a celebrar com um grande Jubileu os dois mil anos do nascimento de Jesus Cristo, o Filho eterno do Pai que - de Maria Virgem e por obra do Espírito Santo - «nasceu do Povo eleito, em cumprimento da promessa feita a Abraão e recordada constantemente pelos profetas».
Dele, e do cristianismo, nos recordamos na sua mesma Carta ao Papa: «Estes (os profetas de Israel) falavam em nome e em lugar de Deus. (…) Os livros da Antiga Aliança são assim testemunhas permanentes de uma atenta pedagogía divina. Em Cristo esta pedagogía alcança sua meta: Ele não se limita a falar "em nome de Deus" como os profetas, mas que é Deus mesmo quem fala no seu Verbo eterno feito carne. Encontramos aqui o ponto essencial pelo que o cristianismo se diferencia das outras religiões, nas que desde o princípio se expressou a busca de Deus por parte do homem. O cristianismo começa com a Encarnação do Verbo. Aquí não é só o homem quem busca a Deus, mas que é Deus quem vem em Pessoa a falar de sí ao homem e a mostrar-lhe o caminho pelo qual é possível alcançá-lo. (…) O Verbo Encarnado é, pois, o cumprimento do anseio presente em todas as religiões da humanidade: este cumprimento é obra de Deus e vai mais além de toda a expectativa humana».
Este acontecimento histórico central para a humanidade inteira, acontecimento porque Deus que se faz homem para dizer «a palavra definitiva sobre o homem e sobre a história», é o que a Igreja se prepara a celebrar com um grande Jubileu, e deste modo se prepara a transpor o umbral do novo milénio. Sua Santidade, o "doce Cristo sobre a terra", como ícone visivel do Bom Pastor vai à cabeça da Igreja que peregrina neste tempo de profundas transformações, constituindo-se para todos seus filhos e filhas que com valor querem escuta-lo e segui-lo, em rocha segura e guia firme … "¡Não tenhais medo!"… são as palavras que também hoje brotam com insistência dos lábios de Pedro, homem de frágil figura, mas eleito e fortalecido por Deus para suster o edifício da Igreja toda com uma fé firme e uma esperança invencível.
(O que se segue é um artigo intitulado «S.S. João Paulo II: "Profeta do sofrimento"», cujo autor é Mons. Cipriano Calderón Polo)
«S.S. João Paulo II, é nesta etapa final do segundo milénio, o Pastor universal do povo de Deus, guia segura para atravessar o "umbral da esperança" que nos introduzirá no terceiro milénio da evangelização...
«¿Como se apresenta ao mundo de hoje o Papa esta encruzilhada decisiva da história? «Sua imagem característica é agora a de profeta do sofrimento, um sacerdote, um evangelizador que realiza em sua amável pessoa a doutrina que ele mesmo explicou na carta apostólica Salvifici doloris (11 de Fevereiro de 1984) e em tantos discursos sobre o significado da dor humana.
«João Paulo II, nas celebrações litúrgicas, nas audiências, nas viagens apostólicas, em todas as suas actividades, aparece como um ícone de sofrimento, dando à Igreja um testemunho formidável da força evangelizadora da dolor física e moral.
«Em sua pessoa de Vigário de Cristo se cruzam as debilidades físicas: essas "debilidades do Papa" as que ele mesmo se referiu no dia de Natal de 1995 desde a janela de seu despacho; as penas e dores cada vez mais crescentes dos homens e mulheres de nosso tempo, de todos os povos, especialmente daqueles mais pobres de América Latina, África e Ásia; os sofrimentos de toda a Igreja, que naturalmente se acumulam no vértice da mesma. E a tudo ele se une a fadiga pastoral produzida por uma entrega sem reservas ao ministério Petrino, ao que o Papa Wojtyla segue oferecendo generosamente todas as suas energias, sem deixar-se render pela idade ou pelos quebrantos de saúde.
«O Santo Padre caminha até ao ano 2000, à frente da humanidade, levando a cruz de Jesus. Assim se parece mais com o divino Redentor.
«Ele mesmo fez notar numa alocução dominical -Ángelus- pronunciada desde o seu quarto do hospital Gemelli: "¿Como me apresentarei eu agora - comentava - aos poderosos do mundo e a todo o povo de Deus? Me a presentarei com o que tenho e posso oferecer: com o sofrimento. Compreendi- dizia - que devo conduzir a Igreja de Cristo até ao terceiro milénio, com a oração, com múltiplas iniciativas (como a que actualmente está vivendo toda a Igreja: um triénio de preparação proposto em sua carta (Tertium millenium adveniente); mas vi que isto não basta: necessito levá-la também com o sofrimento"».
Nasceu para o Reino de Deus, em 2 de Abril de 2005, Em 28 de Junho do mesmo ano se iniciou a sua causa para a beatificação.
Oração para implorar favores por intercessão do
Servo de Deus João Paulo II
Oh Trindade Santa,
Te damos graças por ter concedido à Igreja o Papa João Paulo II
e porque nele hás reflectido a ternura de Tua paternidade, a glória da cruz de Cristo e o esplendor do Espírito de amor.
Ele, confiando totalmente em tua infinita misericórdia e na maternal
intercessão de Maria, nos há mostrado uma imagem viva de Jesus Bom
Pastor, indicando-nos a santidade, alto grau da vida cristã
ordinária, como caminho para alcançar a comunhão eterna Contigo.
Concede-nos, por sua intercessão, e se é Tua vontade, o favor que
imploramos, com a esperança de que seja pronto incluido no número de
teus santos.
Amén.
In:
http://es-catholic.net/santoral - 2-04-2009
(Por falta de tempo e por ser muito extensa, não me foi possível completar a tradução (de espanhol para português - o que no entanto farei logo que possa)
António Fonseca
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