segunda-feira, 13 de abril de 2009

LEITURA Nº 50 - UM ANO A CAMINHAR COM SÃO PAULO

50

“TODOS NÓS DEVEMOS SER REVELADOS PERANTE O TRIBUNAL DE CRISTO”

Há cristãos a quem não agrada a ideia de um Deus Juiz, por acharem ser contrária à sua bondade e misericórdia infinitas. E, se é o medo do castigo a mola do agir, onde está a liberdade do Amor cristão?

Mas serão mesmo inconciliáveis a justiça e a caridade? Veja-se o que se passa nas relações humanas: um pai que repreenda e castigue o filho, será porque o não ama? Não o faz, ou deve fazer, exactamente pelo bem que lhe quer, afastando-o do mal e educando-o para a responsabilidade inerente à verdadeira liberdade e não é por isso que o filho ama ainda mais o pai?

Não são tanto os erros da justiça humana que nos fazem duvidar da divina. Pelo contrário: muitos dos Salmos de lamentação são autênticos gritos de socorro de vítimas da injustiça. E quem não deve não teme.

No Símbolo dos Apóstolos, proclamamos que Jesus está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso, de onde há-de vir a julgar os vivos e os mortos. Será o momento em que se decide o nosso destino eterno, com base na fidelidade a Deus que a todos e em tudo nos ama. O que esse juízo final significa para a nossa caminhada terrena, pode ver-se no que Paulo nos diz em 2 Cor 4, 16 – 5,10, no final da exposição 4, 7 – 5, 10 sobre o exercício da sua actividade apostólica de diácono da nova aliança (3, 6).

2 Cor 4, 16 – 5,10

Por isso não desanimamos. Pelo contrário, se mesmo o nosso homem exterior se corrompe, o nosso homem interior, porém, renova-se dia após dia. Com efeito, a momentânea leveza da nossa tribulação produz em nós, de superabundância em superabundância, um peso eterno de glória, não tendo nós em vista o que é visível, mas o que é invisível, porque o visível é passageiro, ao passo que o invisível é eterno.

Com efeito, sabemos que, se for destruída a nossa terrestre moradia numa tenda, temos de Deus uma morada no Céu, uma moradia eterna, não manufacturada. E, de facto, é nisto que gememos, ansiando por sermos revestidos pela nossa demora do Céu, se é que somos mesmo encontrados vestidos e não nus. E, de facto, enquanto estamos na tenda, gememos oprimidos, na medida em que não queremos ser despidos, mas revestidos a fim de que o que é mortal seja absorvido pela vida. Mas quem nos preparou para isso mesmo foi Deus, que nos deu o penhor do Espírito.

Portanto, sempre confiantes e cientes de que, habitando no corpo, estamos exilados do Senhor, pois caminhamos através da fé não através da visão... Mas estamos confiantes e preferimos desabitar-nos do corpo e ir habitar para junto do Senhor. Por isso, também nos esforçamos, quer habitando quer desabitando, por lhe sermos agradáveis. Com efeito, todos nós devemos ser revelados perante o tribunal de Cristo, a fim de cada um ser recompensado por aquilo que fez por meio do corpo, seja bem ou seja mal.

Vê-se que o juízo final, referido em 5, 10, estava fora de questão. Era, aliás, convicção também de gregos e judeus. A diferença entre eles reduzia-se, praticamente, à dimensão e ao momento do julgamento: no helenismo, contava-se que fosse individual e logo a seguir à morte; para a tradição apocalíptica judaica, será universal e no final da história. A partir de Dn 7, 9-14, é associada a Deus a figura messiânica do Filho do Homem, que para os cristãos é Jesus Cristo glorioso. Assim, Paulo atribui o poder de Juiz universal tanto a Deus (1 Cor 5, 13; Rm 2, 3; 3, ; 14, 10) como a Cristo, por altura da sua última vinda (1 Ts 2, 19; 1 Cor 1, 8; 4, 4s; 2 Cor 1, 14). Neste caso, Cristo é mediador (Rm 2, 16).

Subjacente a esta expectativa, ainda hoje comum, está a dupla convicção de que há, de facto, um Deus que nos governa e que cada homem, enquanto livre, é responsável pelos seus actos. O primeiro aspecto é expresso pelo devemos introdutório, indicativo do cumprimento do plano de Deus, que inclui os acontecimentos finais da história (1 Cor 15, 25.53). Ao segundo está ligado o Evangelho de Paulo, de um modo explícito (Rm 2, 16) ou implícito, como acontece aqui. Quer isto dizer que o juízo de Deus é inseparável da graça que se manifesta e actua no Evangelho. Não que nele todos recebam por igual, mas porque há uma relação de continuidade e plenitude entre os actos sujeitos a julgamento e a sua realização durante a vida terrena. Para isso apontam:

1. O verbo revelar. Que todos devemos ser revelados perante o tribunal de Cristo é de entender segundo as palavras de 1 Cor 4, 5: na vinda gloriosa de Cristo, é Ele quem há-de iluminar o que se o que se esconde nas trevas e desvendar os desígnios dos corações. E então cada um receberá de Deus o louvor que merece. Ora, se é à luz esplendorosa da glória de Cristo que se tornará visível o que cada um de nós é realmente, então o nosso encontro com Cristo ressuscitado tem, já neste mundo, uma dimensão judicial: da sua aceitação depende a nossa... e a felicidade de vivermos já nos seu amor.

2. A recompensa que cada um receberá. Será por aquilo que fez por meio do corpo, não tanto no sentido de compensação, mas de complementaridade: oferecendo os nossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, estamos a realizar o verdadeiro culto, o racional (Rm 12, 1), estamos a viver na caridade com que Cristo, pela total doação da vida, alcançou a vida ilimitada, na glória da ressurreição.

3. O critério do julgamento no bem ou mal que cada um faz. O termo grego traduzido por mal contém a ideia de inútil, sem valor. Em contraste com isso, o bem tem valor, não apenas porque é expressão da minha bondade, mas contribui para o bem e a vida daqueles a quem o faço. é deste modo que a minha vida vai adquirindo aquela dimensão que transcende, já aqui, os limites da minha individualidade e será completada na comunhão eterna com Deus.

Tomemos, para isso, o exemplo de Paulo, por ele próprio descrito, servindo-se, como metáforas, de três elementos fundamentais para a vida humana: a casa, a veste (5, 1-4) e a pátria (5, 6-9). Todas elas se referem à vida no corpo ou fora dele, a entender, porém, não em oposição à alma, mas na perspectiva da vida terrena, marcada pelas limitações e fragilidades, mais sentidas no corpo. É delas que aspiramos por ser libertados, a fim de que o que é mortal seja absorvido pela vida (v. 4) e de que vamos definitivamente habitar para junto do Senhor (v. 8).

Mas é o mesmo corpo que está já vestido pela graça (v. 4) e animado pelo dom do Espírito (v. 5). Além de nos levar a ansiar mais pelo revestimento total na glória eterna (vv. 2.4), é a isso que devemos o reforço por em tudo agradar a Deus (v. 9) e a capacidade de enfrentar os sofrimentos como uma ocasião para o fortalecimento do homem interior que somos, isto é, para o amor que nos leva a dar a vida pelos outros... e a sentir desde já uma felicidade inexprimível e duradoira (4, 16-18).

In:Um Ano a caminhar com São Paulo

De: D. Anacleto de OliveiraBispo Auxiliar de Lisboa

Compilado por: António Fonseca - 08-04-2009

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