quinta-feira, 3 de março de 2011

Mensagem de Bento XVI para a Quaresma – www.es.catholic.net

 

Mensagem do Santo Padre para a Quaresma 2011

Com Cristo sois sepultados no Baptismo, com ele também haveis ressuscitado

Autor: S.S. Bento XVI | Fonte: http://www.vatican.va/

 

«Com Cristo sois sepultados no Baptismo, com ele também haveis ressuscitado» (cf. Col 2, 12)

Queridos irmãos e irmãs:

A Quaresma, que nos leva à celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito valioso e importante, com vistas ao qual me alegra dirigir-vos umas palavras específicas para que o vivamos com o devido compromisso. A Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade operante, enquanto vê o encontro definitivo com seu Esposo na Páscoa eterna, intensifica seu caminho de purificação no espírito, para obter com mais abundância do Mistério da redenção à vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma).

1. Esta mesma vida já se nos transmitiu no dia do Baptismo, quando «ao participar da morte e ressurreição de Cristo» começou para nós «a aventura gozosa e entusiasmada do discípulo» (Homilia na festa do Baptismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2010). São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidamente na comunhão singular com o Filho de Deus que se realiza neste lavabo. O facto de que na maioria dos casos o Baptismo se receba na infância põe em relevo que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com suas forças. A misericórdia de Deus, que limpa o pecado e permite viver na própria existência «os mesmos sentimentos que Cristo Jesús» (Flp 2, 5) comunica-se ao homem gratuitamente.
O Apóstolo das gentes, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da transformação que tem lugar ao participar na morte e ressurreição de Cristo, indicando sua meta: que eu possa «conhecer a ele, o poder de sua ressurreição e a comunhão em seus padecimentos até me fazer semelhante a ele na sua morte, tratando de chegar à ressurreição de entre os mortos» (Flp 3, 10-11). O Baptismo, portanto, não é um rito do passado mas o encontro com Cristo que conforma toda a existência do batizado, e da vida divina e o chama a uma conversão sincera, iniciada e sustentada pela Graça, que o leve a alcançar o talhe adulto de Cristo.
Um nexo particular vincula ao Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II exortaram a todos os Pastores da Igreja a utilizar «com maior abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal»
(Sacrosanctum Concilium, 109). Com efeito, desde sempre, a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: neste Sacramento se realiza o grande mistério pelo qual o homem morre no pecado, participa da vida nova em Jesus Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo espírito de Deus que ressuscitou a Jesús de entre os mortos (cf. Rm 8, 11). Este dom gratuito deve ser reavivado em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um recurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: vivem realmente o Baptismo como um ato decisivo para toda sua existência.

2. Para empreender seriamente o caminho para a Páscoa e prepararmo-nos para celebrar a Ressurreição do Senhor - a festa mais gozosa e solene de todo o Ano litúrgico-, ¿que pode haver de mais adequado que nos deixarmos guiar pela Palavra de Deus? Por isto a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, nos guia a um encontro especialmente intenso com o Senhor, fazendo-nos percorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, e para quem está batizado, com vistas a novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na entrega mais plena a ele.
O primeiro domingo do itinerário quaresmal sublinha a nossa condição de homem nesta terra. A batalha vitoriosa contra as tentações, que dá início à missão de Jesús, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma chamada decidida a recordar que a fé cristã implica, seguindo o exemplo de Jesús e em união com ele, uma luta «contra os Dominadores deste mundo tenebroso» (Ef 6, 12), no qual o diabo atua e não se cansa, tampouco hoje, de tentar ao homem que quer aproximar-se do Senhor: Cristo sai vitorioso, para abrir também nosso coração à esperança e nos guiar para vencer as seduções do mal.
O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante de nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de que é levada, como os Apóstolos Pedro, S. Tiago e João «aparte, a um monte alto» (Mt 17, 1), para acolher novamente em Cristo, como filhos no Filho, o dom da graça de Deus: «Este é o meu Filho amado, em quem pus toda a minha complacência; escutai-O» (v. 5). É o convite para se afastar do ruído da vida diária para submergir-se na presença de Deus: ele quer transmitir-nos, cada dia, uma palavra que penetra nas profundidades de nosso espírito, onde distingue o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e fortalece a vontade de seguir ao Senhor.
A petição de Jesús à  samaritana: «Dá-me de beber» (Jn 4, 7), que se lê na liturgia do terceiro domingo, expressa a paixão de Deus por todo o homem e quer suscitar em nosso coração o desejo do dom da «água que brota para vida eterna» (v. 14): é o dom do Espírito Santo, que faz dos cristãos «adoradores verdadeiros» capazes de orar ao Padre «em espírito e em verdade» (v. 23). ¡Só esta água pode apagar nossa sede de bem, de verdade e de beleza! Só esta água, que nos dá o Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «até que descanse em Deus», segundo as célebres palavras de santo Agostinho.
O domingo do cego de nascença apresenta a Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: «¿Tu crés no Filho do homem?». «Creio, Senhor» (Jn 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, dando voz a todo o crente. O milagre da cura é o sinal de que Cristo, junto com a vista, quer abrir nosso olhar interior, para que nossa fé seja cada vez mais profunda e possamos reconhecer nele como nosso único Salvador. Ele ilumina todas as escuridões da vida e leva ao homem a viver como «filho da luz».
Quando, no quinto domingo, se proclama a ressurreição de Lázaro, nos encontramos frente ao mistério último de nossa existência: «Eu sou a ressurreição e a vida... ¿Crês isto?» (Jn 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de voltar a pôr com sinceridade, junto com Marta, toda a esperança em Jesús de Nazaré: «Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, o que veio ao mundo» (v. 27). A comunhão com Cristo nesta vida nos prepara a cruzar a fronteira da morte, para viver sem fim nele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança na vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido último de nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade da dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e à sua vida social, à cultura,à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba encerrado dentro de um sepulcro sem futuro, sem esperança.
O percurso quaresmal encontra seu cumprimento no Tríduo Pascal, em particular na Grande Vigília da Noite Santa: ao renovar as promessas batismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor de nossa vida, a vida que Deus nos comunicou quando renascemos «da água e do Espírito Santo», e confirmamos de novo nosso firme compromisso de corresponder à ação da Graça para ser seus discípulos.

3. Nossa submissão na morte e ressurreição de Cristo mediante o sacramento do Baptismo,  impulsiona-nos cada dia a libertar nosso coração do peso das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a «terra», que nos empobrece e nos impede estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo. Em Cristo, Deus se revelou como Amor (cf. 1 Jn 4, 7-10). A Cruz de Cristo, a «palavra da Cruz» manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1 Co 1, 18), que se dá para levantar o homem e trazer-lhe a salvação: amor na sua forma mais radical (cf. Enc. Deus caritas est, 12). Mediante as práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do compromisso de conversão, a Quaresma educa a viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O jejum, que pode ter distintas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: fazendo mais pobre nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica do dom e do amor; suportando a privação de alguma coisa -e não só do supérfluo- aprendemos a afastar o olhar de nosso «eu», para descobrir a Alguém a nosso lado e reconhecer a Deus nos rostos de tantos de nossos irmãos. Para o cristão o jejum não tem nada de intimista, mas se abre mais para Deus e para as necessidades dos homens, e faz que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31).
No nosso caminho também nos encontramos perante a tentação de ter, da avidez de dinheiro, que invade o primado de Deus em nossa vida. O afã de possuir provoca violência, prevaricação e morte; por isto a Igreja, especialmente em tempo quaresmal, recorda a prática da esmola, quer dizer, a capacidade de compartilhar. A idolatria dos bens, em troca, não só afasta do outro, mas também despoja o homem, o faz infeliz, o engana, o defrauda sem realizar o que promete, porque situa as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida. ¿Como compreender a bondade paternal de Deus se o coração está cheio de si mesmo e dos próprios projetos, com os quais nos enchemos de ilusões de que podemos assegurar o futuro? A tentação é pensar, como o rico da parábola: «Alma, tens muitos bens em reserva para muitos anos... Mas Deus lhe disse: “¡Néscio! Esta mesma noite te reclamarão a alma”» (Lc 12, 19-20). A prática da esmola nos recorda o primado de Deus e a atenção para com os outros, para redescobrir a nosso Pai bom e receber sua misericórdia.
Em todo o período quaresmal, a Igreja nos oferece com particular abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver diariamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que segue falando a nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciamos no dia do Baptismo. A oração nos permite também adquirir uma nova concepção do tempo: de facto, sem a perspectiva da eternidade e da transcendência, simplesmente marca nossos passos para um horizonte que não tem futuro. Na oração encontramos, em troca, tempo para Deus, para conhecer que «suas palavras não passarão» (cf. Mc 13, 31), para entrar em íntima comunhão com ele que «ninguém poderá tirar-nos» (cf. Jn 16, 22) e que nos abre a esperança que não falta, a vida eterna.
Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual se nos convida a contemplar o Mistério da cruz, é «fazer-me semelhante a ele na sua morte» (Flp 3, 10), para levar a cabo uma conversão profunda de nossa vida: deixar-nos transformar pela ação do Espírito Santo, como são Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos de nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os demais e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é el momento favorável para reconhecer nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.
Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com nosso Redentor e mediante o jejum, a esmola e a oração, o caminho de conversão para a Páscoa nos leva a redescobrir nosso Baptismo. Renovemos nesta Quaresma a acolhida da Graça que Deus nos deu nesse momento, para que ilumine e guie todas nossas ações. O que o Sacramento significa e realiza estamos chamados a vivê-lo cada dia seguindo a Cristo de modo cada vez mais generoso e autêntico. Encomendamos nosso itinerário à Virgem María, que engendrou o Verbo de Deus na fé e na carne, para submergirmos como ela na morte e ressurreição de seu Filho Jesús e obter a vida eterna.

Vaticano, 4 de novembro de 2010

BENEDICTUS PP. XVI

Transcrição e tradução (de espanhol para português) por

António Fonseca

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