terça-feira, 29 de novembro de 2011

Nº 1118-2 - V I T R A L - Em memória - 29-11-2011

 
In Memorian
Padre Salgueirinho 
Um outro Vitral
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Na passada quarta-feira, dia 23, recebi a VOZ PORTUCALENSE e fui logo ansiosamente procurar o VITRAL ou UM OUTRO VITRAL, para o transcrever para este blogue, conforme prometi há 2 semanas atrás. Infelizmente, e, possivelmente, por motivos preponderantes, tal como falta de espaço, ou por qualquer outro, o certo é que nada foi publicado. Fiquei um pouco descoroçoado com a impossibilidade de o fazer e, de mais uma vez, reler e relembrar aos meus leitores, algo de relevante que o Padre Mário Salgueirinho tenha escrito, durante a sua longa atividade literária que repartiu connosco.
 
Por acaso ao folhear mais uma vez o jornal e na Tribuna do Leitor, na segunda página, deparei com uma carta Memória duma leitora, de seu nome, Maria Otília de Figueiredo, residente em Moura Morta (Peso da Régua) – que porventura devo ter conhecido e conhecer ainda (pelo menos o seu nome não me é estranho…) – e cujo texto me permito aqui repetir, porque de certo modo, retrata algo daquilo que eu penso sobre o desaparecido Amigo Padre Mário Salgueirinho (pois também se dá a coincidência de eu o ter conhecido quando estive internado no Sanatório D. Manuel II, não em 1958, mas sim em 1954, portanto uns anos antes),
 
Renovando o meu pedido de desculpas à D. Maria Otília, pelo atrevimento, ouso publicar na íntegra, a carta que está inserida na VOZ PORTUCALENSE – e espero que dentro em breve possamos contactar pessoal ou telefonicamente, - pelo menos para se comprovar se sim ou não, já nos teremos conhecido em qualquer altura. Aliás, tenciono envidar esforços no sentido de a contactar para o efeito, ou através de carta ou por outro meio qualquer. Sem mais, em seguida transcrevo o referido texto:

Eu conheci o senhor P. Salgueirinho em 1958. Eu estava internada no Sanatório D. Manuel II, no Monte da Virgem, onde ele era Capelão. Apreciei então a sua delicadeza, a sua paciência e carinho pelos doentes, quer na Capela, quer quando os encontrava nos corredores, ou era chamada à sua cabeceira. A todos transmitia uma mensagem de esperança e uma palavra de conforto. E eu perguntava-me: como é que um sacerdote tão novo, tão boa figura, decidira ir viver ali, no meio do sofrimento? Deus sabe o segredo. E deve estar já a recompensá-LO por essa doação. Mais tarde conhecia-o nos seus poemas, divulgado em postais de mensagem e ainda pelo «Vitral», que era a primeira coisa que eu procurava no jornal. Fiquei surpreendida com a notícia da sua morte. Apresento os meus sentimentos à Voz Portucalense, na pessoa do seu diretor. Quero continuar a perpetuar e a difundir as suas mensagens. Também sou professora e o seu poema «Professor» tão expressivo, tão real, tão gratificante, é um hino de amor ao Professor e ao Aluno. Gostei de saber que «Vitral» vai continuar. É sinal que mesmo no seio de Deus, Ele permanece connosco. Já encontrou o Senhor da Vida, a Vida que ele agradeceu, num texto do «Vitral», pouco antes da morte. Paz e felicidade à sua alma. Para todos os obreiros da Voz Portucalense, as melhores saudações e bênçãos divinas. Maria Otília de Figueiredo – Moura Morta (Peso da Régua).”
 
Após terminar esta transcrição, lembrei-me de ir procurar em algo que tivesse feito parte do seu Vitral na Voz Portucalense. Curiosamente, em Outubro de 2010 (um ano antes do seu falecimento), no referido blog encontrei o seguinte texto:
 
 

Friday, October 29, 2010

Flor no Deserto


Neste mundo egoísta, de indiferença cruel, de falta de atenção aos problemas difíceis dos outros, é admirável e motivo de alegria a atitude generosa e simpática que vivi no sábado passado.
No fim da celebração litúrgica vespertina na paróquia onde colaboro, encontrei o trânsito desviado através de um bairro, em virtude de obras nas ruas circundantes. Era já escuro e não consegui ler as placas indicadoras dos desvios. Entrei numa rua errada, segui tentando encontrar o caminho que queria, mas emaranhei-me em ruas desconhecidas e complicadas. Perguntei a várias pessoas, mas ninguém me dava uma explicação clara para eu sair dali.
Parei numa rua ampla. Atrás de mim parou um carro. Travei o meu e saí para pedir informações às pessoas que ocupavam esse carro. Dentro um casal e uma criança. Perguntei:
- Podem fazer o favor de indicar-me como posso ir para tal parte?
O condutor pensou uns momentos e disse-me: - É difícil. Mas eu vou indicar-lhe. Siga-me.
Passou o carro para a frente do meu e comecei a segui-lo com toda a atenção. Andou, andou, atravessou bairros novos que eu desconhecia. Depois de alguns minutos de marcha, chegou ao local que eu pedira. Encostou o carro ao lado da rua e eu parei ao lado dele. – Muito obrigado, disse-lhe eu, levantando o braço em expressão de gratidão. Ele sorriu, levantou o braço e seguimos o nosso caminho.
Fui a pensar, feliz: - Ainda há gente boa neste mundo materialista.
Fiquei com pena por não saber o nome e o endereço de pessoa tão bondosa, para lhe agradecer por escrito aquela ajuda maior do que a informação que eu lhe solicitei.
Também aquele desconhecido deve ter regressado a casa de consciência jubilosa, como sentimos quando ajudamos alguém a ser feliz.
Contei este episódio, porque os bons exemplos são frutuosos.
Louvemos o Senhor que nos oferece flores desta beleza em caminhos inesperados e áridos da vida.


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A título de curiosidade, esclareço que o facto que é referido foi-me contado pessoalmente pelo próprio P. Salgueirinho, no dia em que ocorreu, pois ele vinha celebrar Missa aqui `Comunidade de S. Paulo do Viso e realmente havia obras na rua que da Estrada da Circunvalação faz entrada para o Bairro do Viso e era necessário entrar pelo lado Sul e ele não conhecia aquele trajeto.

Como saliento atrás, segue-se o texto que eu já tinha preparado para ser hoje publicado, e que completa de certo modo, algumas das Memórias que partilhei com o Padre Mário Salgueirinho, desde que o conheci (em 1954 – portanto há 57 anos…):


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18-6-1927 - 29-10-2005

Completa-se precisamente hoje 1 mês sobre o falecimento do Padre Mário Salgueirinho Barbosa ocorrido após longo sofrimento que se acentuou mais a partir de 11 de Setembro quando celebrou a sua última Missa na Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso, onde todos os Domingos ia celebrar, desde a sua fundação em 1983 (há 28 anos) em colaboração com o anterior Pároco Padre António Inácio Gomes – Fundador da Paróquia da Senhora do Porto e da Comunidade de S. Paulo do Viso), que foi seu companheiro e Amigo no Seminário e que faleceu há 6 anos (um dia antes do seu aniversário, em 28-10-2005), e, após esta data, continuou a colaborar com o atual Pároco Dr. Manuel Correia Fernandes, que aliás, conhecia não só como padre e Amigo, mas também companheiro pelo menos na direção da Voz Portucalense, de quem chegou a ser também Diretor e Administrador.

Já se disse muita coisa sobre a vida do Padre Salgueirinho e já li muitos testemunhos de Amigos seus e que porventura terão muito gratas recordações da sua vida cheia (84 anos) e, inclusivamente, eu próprio no meu blogue SÃO PAULO (e Vidas de Santos) referi diversas vezes (veja-se 21, 27 e 29/10, e, ainda em 12/11 – data em que publiquei os últimos Vitrais desde 7, 14, 21 e 28/9 e 5 e 12/10) que foram editados na Voz Portucalense e no passado Sábado (dia 19) altura em que, infelizmente, por motivo decerto preponderantes, não foi publicado nenhum Vitral.

No entanto, encontrei na Voz Portucalense do dia 16, na “Tribuna do Leitor” duas referências, uma do Padre Alexandrino Brochado capelão da Capela das Almas que referia: “Acabo de ler o artigo de Fátima Malça, escrito na Voz Portucalense, sobre o Padre Mário Salgueirinho, meu amigo íntimo, cuja falta muito me amargurou e continua a amargurar. Em boa consciência, venho felicitá-la pela beleza do seu artigo, escrito com a inteligência e o coração, que deixou sulco no meu espírito”. Outra carta que me chamou a atenção, foi a de uma leitora “já acima citada” D. Maria Otília de Figueiredo, de Moura Morta (Peso da Régua), “e, que possivelmente, talvez nos tenhamos conhecido, em qualquer altura, dado que o seu nome não me é de todo estranho” e cujo texto tomei a liberdade de transcrever acima, (pedindo desculpa desde já à autora pela ousadia) e que é coincidente logo no seu início, com o modo como conheci o Padre Mário Salgueirinho.

De facto, também em 1954 estive internado no mês de Outubro, no Hospital que se chamava Sanatório D. Manuel II, com problemas do foro pulmonar, que graças a Deus, não deu em nada, porquanto quando fui intervencionado, foi verificado pelos médicos que tudo estava já cicatrizado e que já estava praticamente curado, tendo-me sido dado alta ao fim de um mês de internamento. Acontece que, quando fui internado, fui para uma enfermaria, onde se encontravam 6 doentes, contando comigo. Um deles, faleceu no segundo dia após a minha entrada e outro faleceu duas semanas depois. Entretanto troquei de cama com outro doente, que vim a saber depois estava noivo duma amiga minha, de escola e catequese. Esse doente foi operado mais ou menos oito dias depois e como eu era o único que não me encontrava deitado, fiquei encarregado, a pedido do médico (já falecido há muitos anos, o Dr. Veiga de Macedo) de tomar conta dele (pois havia falta de pessoal auxiliar e de enfermagem) após o seu regresso da sala de operações e durante o tempo que ali permaneci. A título de curiosidade, devo dizer que durante essa noite e após ter começado a recuperar a consciência, saltei da minha cama para o ir segurar, pois que ele tinha arrancado todos os fios a que estava ligado e atirou-se ao chão, tendo sido apanhado por mim a meio da queda que evitou possivelmente a sua morte, pois o sangue começou a sair às golfadas e quando o enfermeiro veio acorrendo à minha chamada, sedou-o novamente e recolocou os fios a que devia estar ligado, dado que estava bastante alterado e insultava e ameaçava tudo e todos.

A propósito, esse rapaz chamava-se Jacinto e a mulher que era a tal rapariga minha amiga de infância (cujo nome não me recordo, de momento, lamentavelmente – deve da ser problema da idade…) em 1962 estava empregado no café Sical, na Praça Filipa de Lencastre, no Porto, e como eu trabalhava na Rua Cândido dos Reis, no SBN, encontramo-nos por algumas vezes, – poucas, infelizmente – pois que ele foi transferido para os escritórios da Sical e depois nunca mais nos vimos. Não sei nada sobre ele nem sobre a mulher já há muitos anos – e já agora, se por acaso ele ou alguém que o tenha conhecido, gostaria que nos encontrássemos de novo.

Mas voltemos ao Padre Salgueirinho, que afinal era sobre isso que eu queria falar. Como acima digo, antes de ser intervencionado (o que aconteceu apenas na última semana de Outubro) estando eu isento pelo médico de permanecer na cama como os outros, comecei logo no segundo dia, a levantar-me às 8 horas da manhã, vestia-me e ia para a Capela onde todos os dias celebrava a Missa, salvo erro, às 9 horas, o Padre Mário Salgueirinho. Como praticamente não havia mais ninguém (apenas ao Domingo é que apareciam alguns doentes, pois nos outros dias, a maior parte das vezes era só eu e o Padre que ali estávamos) ele pediu para que eu o ajudasse, ou seja, fosse Acólito, o que eu fiz com muito gosto, com exceção apenas no dia da intervenção e no dia seguinte, de resto em todos os dias, às 8,30 ou 8,45, lá estava eu a abrir a Capela e a esperar que o P. Salgueirinho chegasse e ajudava-o na celebração da Missa. No último Domingo desse mês, e como hoje sucede, mudou a hora, mas eu esqueci-me e não mudei a hora. Na segunda-feira às 8 horas (no meu relógio…) levantei-me, arranjei-me e fui para a Capela. Estranhei um pouco, pois não via ninguém cá fora – pois embora muitos dos doentes não fossem à Missa, costumavam já andar por ali alguns deles, madrugadores a apanhar o Sol, logo de manhã cedo, e nesse dia, não estava ninguém só começando a aparecer por volta das 9 horas (no meu relógio…) e apenas quando o Padre Salgueirinho chegou é que ele me disse que a hora havia mudado, portanto eu é que me tinha adiantado e não era ela que estava atrasado.

Desde então encontramo-nos muitas vezes, em diversas situações, dado que eu era escuteiro, tendo estado no Bonfim e depois em Campanhã, e, eventualmente havia algumas celebrações ou encontros em que calhávamos de ir ambos. Ouviu.o muitas vezes, – não sempre – mas muitas vezes na Rádio Renascença quando ele ali fazia a Oração da Manhã. Daí começou a nascer, não uma grande amizade, mas sim uma respeitosa e sincera amizade. Quando vim viver para o Bairro do Viso (em 1971) já existia a Igreja da Senhora do Porto e havia sido iniciada a Comunidade de S. Paulo do Viso, e o Padre Salgueirinho já dava a sua colaboração ao Padre António Inácio Gomes, efetuando celebrações, tanto num lado como noutro e foi retomado o contacto que havíamos suspendido por alguns anos, poucos, e essa Amizade foi-se valorizando dia a dia: li muitos dos seus escritos e poemas, tendo-lhe até solicitado aquando dos matrimónios de dois dos meus filhos (já que os outros dois não estão casados) que me fizesse uns poemas a propósito, que eu ofereci a cada um deles.e, também quando nasceram as minhas 3 netas, também lhe fiz idêntico pedido. Lembro-me agora duma ocasião em que houve uma concelebração do Bispo do Porto e de vários padres que colaboravam com o P. Inácio Gomes, numa festa – possivelmente terá sido até nos 40 anos da Igreja da Senhora do Porto, não tenho a certeza… mas deve ter sido) que foi efetuada na Igreja da Senhora do Porto às 10 horas de um Domingo e como ele tinha de celebrar a Missa na Igreja da Comunidade do Viso, às 11 horas, pediu-me para o acompanhar a esta Igreja, às 10,50 horas. Viemos e curiosamente não estava nenhum Acólito, nem nenhum Leitor, e ele disse-me para eu fazer as duas funções o que aconteceu de facto, tendo eu feito as duas leituras e a Oração dos Fiéis e ajudado à Missa nas funções de Acólito.

Este tributo já vai longo, e para terminar, quero relembrar as palavras que ele me disse em em 25 de Outubro, quando o fui ver ao Hospital do IPO, nas vésperas de ir para sua casa e depois para a casa do Pai: “que estava à espera do desenlace com perfeita paz no coração com Deus e com os homens e que estava pronto para a partida”. Estas palavras deixaram-me fortemente comovido como devem calcular e portanto, quando soube que ele já tinha ido para casa – precisamente no dia 27, tive o pressentimento que não passaria dessa semana, o que infelizmente – ou não, só Deus o sabe…, veio a ocorrer no dia 29, sábado, já em sua casa, tendo o seu funeral sido realizado, como já informei no dia 31 de Outubro, em Santiago de Bougado, sua terra natal.

Espero que todos os Sábados possa vir a ter o ensejo de republicar no meu blogue, os VITRAIS que com certeza a Voz Portucalense não deixará de publicar, conforme comunicou em 9 de Novembro. Claro que no caso de ocorrer qualquer falha, por falta de espaço, por exemplo, como deverá ter acontecido nesta última semana, e dado que gostaria de cumprir a promessa que fiz a mim mesmo, de sempre que me for possível  manter viva a Palavra e o Pensamento do Padre Salgueirinho, todos os Sábados neste blogue, já sei o que tenho que fazer – vou recorrer como já o fiz duas vezes – ao blogue que ele escreveu e no qual, essa Palavra e esse Pensamento, ficaram bem expressos e não devem ser esquecidos, pelo menos enquanto eu Deus me permitir alimentar esta ideia.

PAZ E FELICIDADE Á SUA ALMA, junto do SENHOR DA VIDA que ele próprio agradeceu no Vitral publicado em 19 de Outubro, em que dizia OBRIGADO SENHOR, PELO DOM DA VIDA!

ANTÓNIO FONSECA

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