sábado, 20 de junho de 2009

PAULO de Tarso para o Mundo

Guia de aprofundamento
discussão e reflexão
Elaboração de Pe. Tiago Perego, ssp
Nota: Este guia acompanha o DVD "PAULO de Tarso para o Mundo"
UMA LUZ NO CÉU (Act 9, 13)
De Tarso a Damasco
Aprofundemos o texto
Um episódio-chave
A primeira parte de Paulo: de Tarso para o Mundo apresenta a vida de Paulo, desde o nascimento à "conversão". O encontro entre Saulo e Cristo no caminho de Damasco ocupa a parte central da narração, dando o justo relevo a um episódio essencial não somente para Paulo, mas também para toda a história do cristianismo. A experiência de Damasco deve ser vista tendo em fundo duas cidades - Tarso e Jerusalém - onde Saulo vive três dimensões importantes da sua existência: o confronto com as outras culturas, típico de uma cidade portuária como Tarso; o aprofundamento da Tora, característico da formação em Jerusalém; e o zelo extremo e radical que se manifesta na sua obstinação contra o cristianismo nascente e na hostilidade à sua posição em relação à lei e ao templo.
Textos de referência
Act 9, 1-9; Act. 22, 3-21; Act 26, 9-20; 1
Cor 9, 16-17; 1 Cor 15, 8-10;
Gl 1, 11-17;
Fl 3, 4-12;
1 Tm 1,13
O centro da narração
A luz do céu, a voz do ressuscitado, a queda no chão, o espanto dos companheiros de viagem... Os Actos dos Apóstolos recorrem a um vasto leque de imagens para exprimir o que acontece no mundo interior de Saulo. No entanto, só uma leitura atenta do episódio de Act 9, 1-9 nos ajuda a perceber qual é realmente o elemento para que o autor do texto deseja atrair a nossa atenção. O esquema que se apresenta abaixo pode esclarecer: o relato é disposto segundo uma série de paralelismos que convergem numa pergunta fundamental: "Quem és Tu, Senhor?" Lucas não narrou o episódio duma assentada: a página de Act 9 é uma das provas mais evidentes de como os autores sagrados transmitiram o seu testemunho com todo o cuidado, deixando-se inspirar e guiar pelo Espírito de Deus.
ESQUEMA DE ACT 9, 1-9
D
Quem és Tu, Senhor?
C C1
Saulo, Saulo, porque me persegues? Eu sou Jesus a quem tu persegues.
B B1
Estava a caminho... Os companheiros de viagem..
uma luz intensa vinda do céu..., ouvindo a voz...
caindo por terra.. Saulo ergueu-se...
uma voz que lhe dizia... não via nada...
A A1
Para Damasco... Entrou em Damasco...
para os levar... levado
algemados... pela mão...
A narração pode ser "desenhada" em forma de pirâmide.
As duas cenas apresentadas em A e A1 constituem o quadro do encontro com Cristo. Pauloparte com a intenção de levar para a cadeia, em Jerusalém, os fiéis de Damasco, mas é ele quem será conduzido à cidade, levado pela mão, prisioneiro duma dupla cegueira, interior e exterior. As duas cenas apresentadas em B e B1 narram o que acontece no exterior, ao longo do caminho; enquanto vai de viagem, surge uma luz, cai por terra e ouve-se uma voz vinda do céu. Os mesmos elementos são retomados em B1: fala-se da viagem, da voz, de que Paulo se levanta do chão e já nâo vê mais nada.
C e C1, pelo contrário, concentram-se na voz celeste, cuja mensagem indica a identidade deJesus, e na insistência sobre a perseguição.
No centro de toda a estrutura está a pergunta: "Quem és Tu, Senhor?". Percebida a estrutura, a intenção do autor torna-se mais clara: Lucas considera Paulo depositário de uma revelação. Não são a luz vinda do céu nem a queda no chão que estão em primeiro plano, mas o encontro com Cristo. Daqui brota a extraordinária revelaçâo que há-de iluminar três grandes verdades: a identidade de Saulo, que recebe uma nova leitura de si mesmo; a identidade de Cristo, que revive a sua Páscoa na sua Igreja perseguida; e a identidade da comunidade, lugar privilegiado no qual Cristo toma forma. A "transfiguraçâo" de Paulo nasce desta revelaçâo.
Quatro curiosidades
* Perseguia... em que sentido? O vocábulo usado em grego para indicar a acção de Saulorevela uma violência verbal e física.
* Porque foi que os cristãos se refugiaram em Damasco? Os crentes fogem para Damascopara evitar a hostilidade dos irmãos judeus. De facto, Damasco era uma cidade suficientemente grande para se poderem confundir na multidão e bastante próxima para se mudarem para lá.
* O sumo sacerdote também tinha autoridade sobre Damasco? Não. Tinha, porém, uma autoridade moral e espiritual sobre os judeus lá residentes. Saulo limita-se a prender os dissidentes, mas só poderá fazê-lo com a colaboração das autoridades locais.
* Porque é que Lucas narra três vezes o encontro de Damasco? Para sublinhar a incidência deste acontecimento na história do cristianismo. Os três contextos são minuciosamente escolhidos por Lucas: em Act 9, é o contexto do caminho; em Act 22, o templo (o mundo judaico); e, em Act 26, é o pretório (o mundo pagão).
DA PALAVRA À VIDA
Paulo, fonte de conversões
As páginas que, nos Actos dos Apóstolos e nas cartas de Paulo, se referem à revelação na estrada de Damasco não permaneceram fechadas na Bíblia: atravessaram a história, tornando-se, por sua vez, fonte de conversão. O termo "conversão" evoca uma "inversão de rota", uma mudança profunda de perspectiva, uma nova maneira de ler Deus, de nos lermos a nós próprios e de ler a história. Há diversos rostos e nomes que, a partir da experiência e dos escritos de Paulo, exprimem essa novidade de vida inesperada, tornando-se, juntamente com ele, sinal de como pode ser forte a acção da Graça de Deus. Parece-nos significativo dar algum espaço a dois destes rostos, convidando a aprofundar as suas vidas. Trata-se de figuras que influenciaram muito a história do cristianismo e continuam a inspirar profundamente a caminhada de muitos crentes.
Agostinho.
Este jovem, é "grande" ainda antes de se converter... É-o pela sua sede: Agostinho não se contenta com o que lhe é dado. Procura, aprofunda, indaga e... "diverte-se", excedendo-se um pouco. Deus apanha-o com uma frase de Paulo: ao ouvi-la, Agostinho sente um frémito no coração. É uma frase da carta aos Romanos: "Como quem vive em pleno dia, comportemo-nos honestamente: nada de comezainas ou bebedeiras, nada de devassidão e libertinagem, nada de discórdias e de invejas. Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não vos entregueis às coisas da carne, satisfazendo os seus desejos" (Rm 13, 13-14). estas palavras mudam a sua vida: a partir de então, Agostinho será grande, não pela sua sede na busca, mas pelo amor àquele que o cativou e que, finalmente, ele encontrou.
Teresa de Lisieux.
Tendo entrado no Carmelo, Teresa procura o sonho que Deus tem guardado para ela, com a docilidade das almas simples. A resposta chega, uma vez mais, de Paulo, com uma das páginas mais belas do seu epistolário: "Aspirai aos bens do alto. Aliás, vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros. Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou com um bronze que soa ou como um címbalo que retine..." (1 Cor 12, 31-13,1). É o hino à caridade de 1 Cor 13. Ao ouvi-lo, Teresa sente que as palavras do hino escondem a essência da sua vocação: o amor. Daí em diante, faz delas um programa de vida e, embora permanecendo no Carmelo, o seu coração expande-se até abraçar o mundo.
Palavras-chave
Procurar - Conversão - Graça - Revelação
A VIDA TORNA-SE LITURGIA
25 de Janeiro: festa da Conversão de São Paulo
Nesta data, a Igreja celebra a Conversão de São Paulo, festa litúrgica de origem galicana (século VI). Paralela à memória da Cátedra de São Pedro (22 de Fevereiro), ela convida a reflectir na força da Graça de Deus, fonte de todos os caminhos da santidade. Na Europa do Norte, o dia 25 de Janeiro foi, durante muito tempo, festa de preceito. Actualmente, nesta data, termina a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos: o testemunho de Paulo recorda que qualquer percurso de comunNegritohâo começa sempre com um veemente desejo de conversão e com docilidade à Graça de Deus.
Oração
Dobro os joelhos diante de ti, ó Pai,
de quem toda a paternidade nos céus e na terra recebe o nome.
Peço que me concedas, segundo a riqueza da tua glória,
que eu seja poderosamente fortalecido,
pelo teu Espírito, no homem interior.
Que Jesus Cristo habite, pela fé, no meu coração
e, assim, radicado/a e fundado/a na caridade,
eu esteja emn condiçoes de compreender, com todos os santos,
qual é a largura, o comprimento, a altura
e a profundidade do amor de Cristo,
que ultrapassa todo o conhecimento,
para que, deste modo, eu fique repleto/a de toda a sua plenitude.
A frase:
"Paulo vem de Saulo como um cordeiro saído de um lobo. Antes adversário, depois apóstolo; antes, perseguidor, depois testemunha do Evangelho."
Agostinho, Padre da Igreja, Confissões (século IV)
(Continua)
1ª recolha
20.06.2009
António Fonseca

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