A Aparição de La Salette e suas Profecias: “Profecias” sobre o “fim do mundo” em 2012
“Profecias” sobre o “fim do mundo” em 2012
Posted: 10 Apr 2012 10:30 PM PDT
Estaríamos nas vésperas do início do fim do mundo?
Confusas e contraditórias “profecias” – misturando argumentos pseudocientíficos, exageros, superstições, Nova Era e Science fiction – dizem que sim e apontam para o ano de 2012.
Alguém poderia perguntar se, em meio a tanta charlatanice, não haveria nelas algum conteúdo de verdade.
De fato, os tsunamis de desordem e imoralidade que assolam a Terra inteira não poderiam ser interpretados como o início dos formidáveis abalos morais e celestiais de que fala o Apocalipse?
“Um grande terremoto, o sol se escureceu como um tecido de crina, a lua tornou-se toda vermelha como sangue e as estrelas do céu caíram na terra, como frutos verdes que caem da figueira agitada por forte ventania. O céu desapareceu como um pedaço de papiro que se enrola e todos os montes e ilhas foram tirados dos seus lugares” (Ap. 6-12ss).
As obscuras “profecias” sobre 2012 chegam a apavorar e confundir os espíritos. Entretanto, uma coisa é certa: o fato formidável e único do fim do mundo jamais aconteceria sem que antes Deus enviasse avisos e sinais inteligíveis aos homens de Fé.
E até para aqueles de consciência reta que são susceptíveis de receber a Fé nos terríveis eventos terminais da História.
Ora, avisos e sinais do Céu não têm faltado à nossa época. Os principais dentre eles foram analisados e aprovados pela Igreja e contêm duas notas distintivas.
Primeira: nunca deixam de verberar o pecado que inunda a Terra como o verdadeiro culpado dos cataclismos vindouros.
Segunda: anunciam como desfecho a conversão dos homens e a inauguração de um novo período histórico no qual o Evangelho e a Igreja Católica reinarão sobre uma humanidade regenerada e com renovado fervor na Fé. Será o Reino do Coração Sapiencial e Imaculado de Maria nos corações e nas sociedades.
Segundo essas mensagens, as grandes catástrofes que podem advir terão um caráter corretivo além de punitivo, afastando qualquer ideia de extinção da Terra e da humanidade.
Numerosos e concludentes, os anúncios do Céu vieram por meio de Santos, de Papas e da própria Mãe de Deus. Vejamos alguns dos mais taxativos entre eles, declarados isentos de erro contra a Fé ou contra a moral pela suprema autoridade da Igreja.
São Luís Maria Grignion de Montfort: Reino de Maria após um dilúvio de fogo
Poucos santos falaram com tanta luz profética e precisão de linguagem quanto o máximo doutor marial do catolicismo, o francês São Luís Maria Grignion de Montfort (1673–1716).
Sua imagem, aliás, foi instalada na nave da Basílica de São Pedro por vontade dos Papas.
São Luís Maria Grignion de Montfort, estátua na basílica de São Pedro
Na sua famosa “Oração Abrasada”, o santo anuncia nestes termos a restauração da Igreja, após uma purificação de nossa era pecaminosa:
“Deixareis tudo assim ao abandono, justo Senhor, Deus das vinganças? Tornar-se-á tudo afinal como Sodoma e Gomorra? (...) Não mostrastes antecipadamente a alguns de vossos amigos uma futura renovação de vossa Igreja? Não devem os judeus converter-se à verdade? Não é esta a expectativa da Igreja? (...) Todas as criaturas, até as mais insensíveis, gemem sob o peso dos pecados inumeráveis de Babilônia e pedem a vossa vinda para restabelecer todas as coisas: omnis creatura ingemiscit” (Rom 8, 22).
Na mesma oração, o ardoroso doutor mariano explica o fundo teológico dessa visão profética:
“O reino especial de Deus Pai durou até o dilúvio e foi terminado por um dilúvio de água; o reino de Jesus Cristo foi terminado por um dilúvio de sangue; mas vosso reino, Espírito do Pai e do Filho, continua presentemente e será terminado por um dilúvio de fogo, de amor e de justiça. Quando é que virá esse dilúvio de fogo de puro amor que deveis atear em toda a Terra de um modo tão suave e tão veemente, que todas as nações, os turcos, os idólatras, e até mesmo os judeus hão de arder nele e se converter? ... Enviai à Terra esse Espírito todo de fogo, para nela criar sacerdotes todos de fogo, por cujo ministério seja renovada a face da Terra e reformada a vossa Igreja”. (in “OEuvres Complètes”, Éditions du Seuil, Paris, 1966, 1905 pp., págs. 675-688)
Para realizar essa tarefa, São Luís Maria profetizava a vinda dos Apóstolos dos Últimos Tempos.
Neste ponto, o santo dava continuidade a muitos outros que previram a aparição desses novos apóstolos: São Francisco de Paula, São Vicente Ferrer e Santa Catarina de Siena, por exemplo.
Continua no próximo post
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Sentir com a Igreja
Posted: 11 Apr 2012 09:54 AM PDT
Esta pode ser a nova bandeira do Brasil, se o STF aprovar o aborto dos anencéfalos.
“Hitler, Deus e a Bíblia”: livro mostra como o ditador nazista usou a religião para matar judeus
Posted: 11 Apr 2012 06:40 AM PDT
O ditador nazista Adolf Hitler e as histórias de sua ascensão e influências continuam gerando temas de livros e análises sobre suas motivações.
Posted: 11 Apr 2012 06:34 AM PDT
O processo movido pelo Ministério Público Federal contra o pastor Silas Malafaia voltou a ser tema de artigos do jornalista Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja.
Audiotube - Considerações iniciais sobre o neopentecostalismo
Posted: 10 Apr 2012 08:25 PM PDT
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Sentir com a Igreja
Posted: 12 Apr 2012 10:53 AM PDT
Hoje em dia, muita gente pensa que ser religioso é acreditar em fatos históricos absurdos. Moisés abrindo o Mar Vermelho para a passagem do povo hebreu. Deus confeccionando Eva a partir de uma costela de Adão, ou tirando o mundo do Caos em seis dias. A virgem Maria concebendo o filho de Deus. Jesus transformando água em vinho, multiplicando o pão, caminhando sobre o mar, ressuscitando e subindo ao Céu. Na era moderna, positivista e racionalista, os rituais e a disciplina religiosa foram colocados à margem do que foi considerado como a boa educação. Perdemos a capacidade de ler um texto religioso, confundindo-o com os nossos textos históricos e científicos, e criticando-os por não terem qualidades que nunca pretenderam ter. Não surpreende que hoje, embora já desiludidos do positivismo, o nosso conhecimento e, principalmente, nossa compreensão da religião seja precária e distorcida. Assim, para explicar o que a religião realmente significa, Karen Armstrong, em seu livro Em defesa de Deus, percorre a história da religião, da teologia, da ciência, do ateísmo, e do fundamentalismo.
A era moderna, que teve muitos acertos, também cometeu muitos erros. Um deles foi não entender muito bem o homem e seu anseio legítimo de transcendência e sentido. O homem sem religião, fenômeno que nasceu no século XVIII, tem uma história. Já atravessou muitos descaminhos: da certeza na realização individual ao niilismo desesperado dos poetas românticos; da certeza na evolução histórica a caminho do paraíso comunista à revelação do que realmente eram as sociedades comunistas; da certeza na apoteose de grupos étnicos e nacionais ao apocalipse dos massacres, das guerras mundiais e do terrorismo.
Com as velhas certezas despedaçadas no chão juntamente com seus ídolos, vivemos em uma época de desespero, em que pode renascer a leve esperança religiosa ou novas certezas esmagadoras (que podem vir cobertas em trapos religiosos, científicos, políticos, nacionalistas, étnicos, ou filosóficos).
Depois de estudar profundamente a história das diversas religiões, Karen Armstrong percebeu que religião tinha pouco a ver com pensamento exato a respeito de acontecimentos históricos ou fenômenos naturais. O significado pré-moderno das palavras crença e fé é confiar, amar, entregar o coração. Mas a mentalidade moderna superestimou a realidade, o prático, o que pode ser utilizado, em detrimento da fantasia, da poesia. Em uma época assim, é sinal da força e da importância da religião que as pessoas religiosas, para não abandonar sua prática, tenham acreditado literalmente nos símbolos da sua religião e tentado justificar racionalmente e pragmaticamente a poesia religiosa.
Religião é principalmente prática correta (ortopraxia) e não pensamento correto (ortodoxia). Participação em rituais mitológicos, orações, e verdades simbólicas. A religião é uma forma de entrar em contato com “algo” que está além do tempo e do espaço, e portanto além da linguagem e do pensamento humano, mas que dá sentido e valor à vida. A religião, para falar de “algo” que transcende o que nossa mente pode perceber, só pode falar por meio de símbolos e mitos. E, nesse sentido, não pode haver o símbolo e o mito certo, porque todos são necessariamente imperfeitos.
O símbolo correto é todo aquele capaz de transformar o religioso em um ser humano melhor, mais caridoso, mais integrado à vida, ao mundo e aos outros seres humanos. Karen Armstrong também percebeu que no coração de todas as grandes religiões está o que chamamos de regra de ouro, em sua formulação negativa ou positiva: não faça ao outro o que você não gostaria que lhe fizessem, e trata o próximo do mesmo modo que você gostaria de ser tratado. Para isso, é preciso que você olhe dentro de si e perceba o que faz você sofrer, e também é preciso imaginação, para se colocar na posição do outro.
Leia aqui trechos do livro Em defesa de Deus:
Achamos que a religião nos deve fornecer informações. Existe um Deus? Como o mundo surgiu? Mas essa é uma aberração moderna.
Muitos esqueceram que o ensinamento religioso era o que os rabinos chamavam de miqra. Era, essencialmente, um plano de ação. O devoto precisava abraçar o símbolo, envolver-se com ele, ritual e eticamente, e deixá-lo operar uma profunda mudança em sua pessoa. Esse era o significado original das palavras fé e crença. Sem envolvimento, o símbolo permanecia obscuro e implausível.
Hoje, com a própria ciência se tornando menos determinada, talvez esteja na hora de retomar uma teologia que afirme menos e se abra mais ao silêncio e ao desconhecimento.
O papel da religião, estreitamente relacionado com o da arte, consiste em nos ajudar a ter uma convivência criativa, pacífica e até prazerosa com realidades que não são facilmente explicáveis e com problemas que não conseguimos resolver: mortalidade, dor, sofrimento, desespero, indignação em face da injustiça e da crueldade da vida.
O insight religioso requer não só dedicação intelectual para ir além dos ídolos do pensamento, como um estilo de vida pautado pela compaixão que nos permite transpor a esfera da individualidade. O logos agressivo, que procura dominar, controlar e eliminar a oposição, não proporciona esse insight transcendente. A experiência demonstra que isso só é possível quando cultivamos uma atitude receptiva e atenta, como a que assumimos em relação às artes plásticas, à musica e à poesia. Isso requer kenosis, capacidade negativa, sábia passividade e um coração que observa e recebe.
Cada tradição formula o sagrado de um modo, e isso certamente afeta a maneira como os fiéis o experimentam. Há diferenças importantes entre brahman, nirvana, Deus e Dao, mas isso não quer dizer que um é “certo” e os outros são “errados”. Nessa área, ninguém pode ter a última palavra. Todos os sistemas religiosos se esforçam para mostrar que não é possível expressar o sublime em nenhum sistema teórico, por mais grandioso que seja, porque ele escapa ao alcance das palavras e dos conceitos.
As pessoas se dedicam à atividade religiosa praticamente desde sempre. Desenvolveram mitologias, rituais e disciplinas éticas que lhes permitiam vislumbrar a santidade que, indescritivelmente, parecia aprimorar e preencher sua humanidade. Eram religiosas não porque tinham mitos e doutrinas científica ou historicamente válidas, não porque buscavam informação sobre as origens do cosmo, não porque desejavam uma vida melhor no além-túmulo. Acreditavam não porque sacerdotes ou reis ávidos de poder as obrigavam: ao contrário, a religião, com frequência, ajudou-as a combater esse tipo de tirania e opressão. Religião tem a ver com viver intensamente aqui e agora. Os religiosos são ambiciosos. Querem levar uma vida transbordante de significado. Sempre desejaram incorporar a seu cotidiano os momentos de arrebatamento e insight que lhes ocorriam em sonho, em sua contemplação da natureza, em seu relacionamento com os outros e com os animais. Em vez de se deixar esmagar e amargurar pelo sofrimento, procuram manter-se em paz e serenos diante da dor. Querem coragem para superar seu terror da mortalidade; não querem ser gananciosos e mesquinhos, mas generosos e justos e exercer plenamente sua humanidade. Não querem ser uma vasilha comum, mas, como propõe Confúcio, transformar-se num belo vaso ritual, transbordante da santidade que aprenderam a ver na vida. Tentam honrar o inefável mistério que percebem em cada ser humano e criar sociedades que respeitem o estrangeiro, o pobre e o oprimido. Muitas vezes falham, naturalmente. No entanto, acima de tudo, descobrem que as disciplinas da religião os ajudam a fazer tudo isso. Quem se dedica com maior zelo mostra que os mortais podem viver num plano mais elevado, num plano divino, e, assim, despertar para seu verdadeiro eu.
Glossário (alguns termos do Glossário que é parte do livro)
apofático (grego): sem palavras, silencioso.
brahman (sânscrito): o Todo, o conjunto da realidade, a essência da existência, a base de tudo que existe, o Ser em si, a força que une o cosmo e lhe permite crescer e desenvolver-se. A realidade suprema da religião védica.
compaixão (derivado do grego e do latim): capacidade de sentir com o outro, empatia, solidariedade. Não significa piedade, pena. É considerada a maior das virtudes em todas as grandes tradições religiosas; a prova da verdadeira experiência religiosa e um dos principais meios de experimentar o sagrado. Todas as tradições também nos dizem que não devemos restringir nossa benevolência a nosso grupo, mas devemos ter preocupação com todos, respeitar o estranho, amar até nossos inimigos.
credo (latim); infinitivo credere: hoje, é geralmente traduzido como creio e crer, respectivamente. Mas essa é uma evolução relativamente recente (cf. crença). Credo deriva de cor do: dou o coração. Na origem, significava confiança, dedicação, compromisso, envolvimento. Quando traduziu a Bíblia para o latim, no século IV, São Jerônimo usou credo como equivalente de pisteuo.
crença: originalmente no inglês médio, o verbo bileven significava amar, prezar, querer bem; o substantivo bileve significava lealdade, confiança, dedicação, compromisso. Tinha relação com o alemão liebe, amado, e o latim libido, desejo. Nas versões inglesas da Bíblia, os tradutores usaram essas palavras como equivalentes ao grego pistis, pisteuo, e ao latim fides, credo. Assim, crença se tornou equivalente a fé. Mas o termo começou a mudar de significado no final do século XVII, quando passou a designar anuência intelectual a uma proposição específica, a determinado ensinamento, opinião ou doutrina. Nesse sentido moderno, foi usada primeiramente por filósofos e cientistas, e só no século XIX o novo uso se difundiu no contexto religioso.
Dao (chinês): o Caminho, o rumo correto. Muitos rituais chineses tinham por objetivo assegurar que os assuntos humanos estivesses em sintonia com o Caminho do Céu – ou, podemos dizer, com o Ser. Na tradição conhecida como daoísmo, tornou-se a realidade última, indescritível e impessoal; a fonte da qual deriva toda aparência; o produtor não produzido de tudo que existe, que garante a estabilidade e a ordem do mundo.
dynamis (grego): os poderes de Deus; termo usado pelos gregos para denotar a atividade de Deus no mundo, que era muito diferente da indescritível e incognoscível essência (ousia) divina.
ekstasis (grego): êxtase; literalmente, sair de si; ir além do eu; transcender a experiência normal.
energiai (grego): energias; termo usado para distinguir as atividades ou manifestações de Deus no mundo, pelas quais podemos vislumbrar alguma coisa do divino, inacessível de outro modo. Como dynamis, o termo é empregado para distinguir entre a concepção humana de Deus e a inefável e desconhecida realidade. Para os padres gregos, o Logos e o Espírito Santo eram as energiai que, por assim dizer, traduziam o divino em termos que, em certa medida, os humanos conseguiam entender.
Espírito Santo: tradução do hebraico ruach: espírito; termo usado pelos rabinos, geralmente intercambiável com Shekhinah, para indicar a presença de Deus na terra; distinto de Deus, a essência da divindade que excede o entendimento ou a experiência humana. Os primeiros judeus cristãos usavam o termo para denotar a presença imanente dentro deles que os dotava de poderosa energia e lhes permitia entender o significado mais profundo da missão de Jesus.
fé: confiança, lealdade; tradução do latim fides (lealdade, fidelidade) e do grego pistis. Na origem, não significava aceitação de uma teologia ortodoxa. Ver crença.
hesychia (grego); hesicasta: tranquilidade interior, silêncio interior; espiritualidade apofática, contemplativa, que despojava a mente de ideias teológicas e tentava elevar-se acima de palavras, conceitos e sensações.
hypostasis (grego); plural hypostases: no contexto secular, designa a expressão exterior da natureza interior de uma pessoa; objeto ou pessoa vistos de fora; os gregos usavam o termo para designar as manifestações exteriores do Deus desconhecido como Logos e Espírito Santo.
kenosis (grego): esvaziamento, o esvaziamento do eu, a eliminação do egoísmo.
logos (grego): discurso do diálogo; pensamento racional, lógico e científico. Entre os antigos filósofos gregos, logos designa o modo de pensar pragmático e acurado, distinto de mythos. Entre os estóicos, refere-se aos processos subjacentes racionais e dominantes da natureza, também chamados de Deus ou Espírito. Os cristãos identificam o Logos com a sabedoria de Deus, que dá origem a tudo e proporciona aos humanos vislumbres do divino através da história. No prólogo de seu evangelho, São João afirma que o Logos se fez carne na pessoa de Jesus. Com o desenvolvimento da teologia cristã, o Logos se tornaria uma das hypostases, prosopoi, dynamis e energeiai de Deus, que, sem isso, seria desconhecido e incognoscível.
miqra (hebraico): chamado à ação; nome que os primeiros rabinos davam às Escrituras.
musterion (grego): mistério; relacionado com o verbo muein, fechar os olhos ou a boca, refere-se a uma realidade obscura, invisível ao olhar comum, inacessível à linguagem. Também está relacionado com myein: iniciar, e myesis: iniciação. Daí os cultos de mistério que se desenvolveram no mundo grego, notadamente em Elêusis, durante o século VI a.C.; ritos secretos que proporcionavam aos participantes uma poderosa experiência do sagrado. Mais tarde, os cristãos gregos aplicavam o termo musterion às iniciações do batismo e da eucaristia. A exegese, busca do significado oculto das Escrituras, também era um musterion, um processo de iniciação transformador. Portanto, musterion não era algo que se devia pensar e acreditar (no sentido moderno), mas algo que se fazia. Isso era particularmente evidente no dogma da Trindade, que não era apenas uma formulação doutrinal, mas um exercício de meditação.
mystes (grego); plural mystai: iniciado; alguém que participa de um mistério (musterion).
mythos (grego); plural mythoi: mito; relato que não pretende ser histórico ou factual, mas expressa o significado de um acontecimento ou de uma narrativa e contém sua dimensão atemporal, eterna. Pode-se definir mito como algo que, em algum sentido, ocorreu uma vez, mas também acontece todo o tempo. Também se pode ver o mito como uma forma primitiva de psicologia, descrevendo o mundo labiríntico e obscuro da psique. Derivado do verbo muein, fechar os olhos ou a boca, está relacionado com mistério e misticismo e tem conotações de escuridão e silêncio. Refere-se a experiências e convicções que não são facilmente verbalizáveis, escapam à clareza do logos e são diferentes do discurso e dos hábitos relacionados com a realidade cotidiana.
nirvana (sanscrito): extinção, apagamento; no budismo, extinção do eu, que proporciona iluminação e liberta da dor e do sofrimento; um sagrado refúgio de paz descoberto nas profundezas do eu; uma realidade indefinível, porque não corresponde a nenhum conceito e é incompreensível para quem ainda está preso nas armadilhas do egoísmo.
ousia (grego): essência; natureza; o que faz uma coisa ser o que é; pessoa ou objeto vistos a partir de dentro; aplicado ao que chamamos de Deus, o termo denota a essência, natureza ou substância divina, que sempre escapa a nosso entendimento ou a nossa experiência. Os rabinos diziam que nem sequer é mencionado na Bíblia ou no Talmude.
persona (latim); plural personae: máscara, rosto; tradução do grego prosopon: a máscara usada pelo ator para a plateia poder reconhecer sua personagem e ouvir bem sua voz (o som [sonus] era amplificado, como se passasse por [per] ela). Daí as hypostases da Trindade serem chamadas de as três pessoas divinas.
pistis (grego): forma verbal pisteuo: confiança, lealdade, dedicação; geralmente traduzido como fé.
prosopon (grego); plural prosopoi: rosto, máscara; também designa expressão facial que revela pensamentos íntimos ou papel que alguém decide representar na vida ou no teatro. Usado com frequência pelos padres gregos como alternativa para hypostasis.
Ser: a energia fundamental que sustenta e anima tudo que existe; não confundir com um ser, que é uma manifestação finita, particular e limitada do Ser em si.
símbolo (derivado do grego): objeto material, pessoa, ícone ou ideia que representa algo imaterial. O grego symbolon sugere algo que é juntado. Nunca experimentamos a realidade incognoscível que chamamos de Deus diretamente, mas sempre num objeto terreno, como uma pessoa, um texto, um código legal, uma montanha, um templo, uma ideia ou doutrina. Os credos da igreja eram originalmente chamados de símbolos. No mundo pré-moderno, o símbolo terreno e a realidade que ele apontava eram vistos como inseparáveis. Tinham realmente sido juntados e misturados, como gim e tônica num coquetel. No século XVI, porém, prevalecendo a busca científica de precisão e univocidade, passou-se a distinguir o símbolo da realidade transcendente que ele apontava. Assim, os reformadores protestantes diziam que a eucaristia era apenas um símbolo. Os deuses e devas eram símbolos da realidade transcendente do Ser. A ideia de Deus também era um símbolo, dirigindo nossa atenção para uma realidade transcendente, além de si mesma.
transcendência, adj. transcendente (derivado do latim): o que sobe além da realidade conhecida e não pode ser classificado.
Fonte: http://antesqueeudesista.blogspot.com.br/
Leia mais um trecho do livro Em defesa de Deus no site da Companhia das Letras
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Bebês anencefálicos podem ser abortados? | Arquidiocese de São Paulo
Posted: 11 Apr 2012 11:39 AM PDT
O tema representa um sério desafio atual, a ser abordado com serenidade e objetividade, tendo em conta critérios antropológicos e éticos gerais, e também os referenciais do ordenamento jurídico brasileiro, a começar da própria Constituição Nacional. O Supremo Tribunal Federal deverá pronunciar-se sobre a “legalidade” do abortamento de fetos, ou bebês acometidos por essa grave deficiência, que não lhes permitirá viver por muito tempo fora do seio materno, se chegarem a nascer.
A partir da minha missão de bispo da Igreja e cidadão brasileiro, sinto-me no dever de manifestar minha posição e de dizer uma palavra que possa ajudar no discernimento diante da questão. A decisão tem evidentes implicações éticas e morais; desejo concentrar minha reflexão sobre alguns desafios muito específicos, que se referem à dignidade da pessoa e da vida humana.
Em relação aos anencéfalos, existe o pedido da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde para que o Supremo Tribunal Federal reconheça e estabeleça a legalidade da “antecipação terapêutica do parto” desses bebês, com forte pressão de grupos favoráveis ao aborto. No calor de muita emoção, podem não ser adequadamente percebidos os examinados argumentos falaciosos, que acabam por se tornar decisivos.
Os principais argumentos alegados a favor do aborto, nesse caso, são os seguintes:
a ) Tratar-se-ia de “vidas inviáveis” fora do útero materno; uma vez que os anencéfalos não sobrevivem por muito tempo fora do seio materno, para que manter semelhante gravidez e levá-la até o fim?
- A gravidez de um anencéfalo representaria, para a mãe, um sofrimento insuportável, uma verdadeira “tortura”, que degradaria a dignidade da mulher;
- Tratando-se de uma “anomalia”, o ser daí resultante seria indefinível, um “não-ser”, um “não-humano”; portanto, em relação a ele não entrariam em questão os argumentos do respeito à vida e à dignidade humana;
- Toda a atenção deveria ser dada à mãe, nesses casos, o único sujeito de direitos e de dignidade, a ser tutelado e protegido pela lei;
- Os bebês anencéfalos seriam “natimortos”, pois a ausência parcial ou total do cérebro equivaleria à morte cerebral; para que manter tal gravidez? Por isso mesmo, os bebês acometidos por essa anomalia, que chegam a nascer, podem ser colocados na mesma condição dos adultos que estão com “morte cerebral” e seus órgãos poderiam ser retirados e doados.
- O Brasil é um dos países que têm a maior incidência de anencefalia; seria necessário baixar este triste quadro.
Como se pode perceber facilmente, esses argumentos mereceriam ser examinados profundamente por peritos da área médica, do direito e da ética. De qualquer modo, as implicações morais são graves e não podem ser simplesmente resolvidas na emoção de um debate na opinião pública, ou a partir dos resultados de pesquisas de opinião, o que pode ser uma fácil tentação.
Os principais argumentos empregados pela CNBB são os seguintes:
- O anencéfalo, malgrado a sua condição, é um ser humano vivo; por isso, ele merece todo o respeito devido a qualquer ser humano; ainda mais, por se tratar de um ser humano extremamente fragilizado; a sociedade, por meio de suas Instituições, deve tutelar o respeito pleno à sua frágil vida e à sua dignidade.
- O sofrimento da mãe é compreensível e deve ser levado plenamente a sério; mas não pode ser argumento suficiente para suprimir a vida de um bebê com anomalia. Se o sofrimento da mãe, ainda que grande, fosse considerado argumento válido para provocar um aborto, estaria sendo aprovado o princípio segundo o qual pode ser tirada a vida de um ser humano que causa sofrimento grave a um outro ser humano. Não só em caso de aborto...
- O sofrimento da mãe, que é pessoa adulta, pode e deve ser mitigado de muitas maneiras, quer pela medicina, pela psicologia, pela religião e pela solidariedade social; além disso, trata-se de um sofrimento circunscrito no tempo, que pode mesmo dignificar a mulher que o aceita, em vista do filho; mas a vida de um bebê, uma vez suprimida, não pode ser recuperada; e o sofrimento moral decorrente de um aborto provocado pode durar uma vida inteira. Além do mais, o sofrimento da mãe e o respeito à vida e à dignidade do filho são duas realidades de grandezas e pesos muito diversos e não podem ser, simplesmente, colocados no mesmo nível; o benefício do alívio de um sofrimento não pode ser equiparado ao dano de uma vida humana suprimida.
- É preconceituoso e fora de propósito afirmar que a dignidade da mãe é aviltada pela geração de um filho com anomalia; tal argumentação pode suscitar, ou aprofundar um preconceito cultural contra mulheres que geram um filho com alguma anomalia ou deficiência; isso sim, seria uma verdadeira agressão à dignidade da mulher.
- O valor da vida humana não decorre da duração dessa mesma vida, ou do grau de satisfação que ela possa trazer aos outros, ou a ela própria. O ser humano é respeitável sempre, por ele mesmo; por isso, sua dignidade e seu direito à vida é intocável.
- O cerne de toda a questão está nisso: os anencéfalos são “seres humanos”? São “seres humanos vivos”? Apesar dos argumentos contrários, não há como colocar em dúvida a resposta afirmativa às duas perguntas. Portanto, daí decorre, como conseqüência, que ele deve ser tratado como “ser humano vivo”.
- Permanece, de toda maneira, válido que só Deus é senhor da vida e não cabe ao homem eliminar seu semelhante, dando-lhe a morte; nem mesmo aqueles seres humanos que não satisfazem aos padrões estéticos, culturais, ou de “qualidade de vida” estabelecidos pela sociedade ou pelas ideologias. A vida humana deve ser acolhida, sem pré-condições; não somos nós que damos origem a ela, mas ela é sempre um dom gratuito. Não é belo, não é digno, não é ético, diante da vida humana frágil, fazer recurso à violência, ou valer-se do poder dos fortes e saudáveis para dar-lhe o fim, negando-lhe aquele pouco de vida que a natureza lhe concedeu. Digno da condição humana, nesses casos, é desdobrar-se em cuidados e dar largas à solidariedade e à compaixão, para acolhê-la e tratá-la com cuidado, até que seu fim natural aconteça.
Arcebispo de São Paulo
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António Fonseca
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