Nº 1593 - (3)
BOM ANO DE 2013
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Caros Amigos:
Desde o passado dia 11-12-12 que venho a transcrever as Vidas do Papas (e Antipapas)
segundo textos do Livro O PAPADO – 2000 Anos de História.
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BENTO XIV
Bento XIV
(1740-1758)
O conclave reunido durante seis meses – o mais longo do século – elegeu em 17 de Agosto de 1740 o arcebispo de Bolonha, Próspero Lambertini, que foi consagrado a 22 do mesmo mês, tomando o nome de Bento XIV.
A nível religioso, o seu pontificado foi importante e deixou marca duradoura na Igreja e na sua administração: regulou os casamentos mistos entre católicos e protestantes, decretando que os filhos daí nascidos deveriam ser educados no catolicismo, recusou-se a incrementar o número de festas religiosas, criou uma comissão para rever o breviário, reformou o martirológio romano, modificou e fixou as normas que ainda regem a beatificação e a canonização e promulgou leis sobre as missões, nas bulas Ex quo singular e Omnium solicitudinum, denunciando e proibindo o sincretismo com as culturas nativas, que os Jesuítas permitiam e favoreciam nas missões da China e da América.
Propagou a devoção da Via Sacra, celebrou em 1750 o XVIII Ano Santo e reconheceu duas novas ordens religiosas; a dos Passionistas e dos Redentoristas.
Conseguiu o retorno à disciplina católica de algumas igrejas orientais, reconheceu Serafim Tanas como patriarca dos melaquitas gregos de Antioquia e solucionou conflitos na Igreja maronita.
Renovou as proibições de Clemente XII contra os maçons e conseguiu que na Espanha, Nápoles e Milão fossem aprovadas leis contra a Maçonaria.
Na política interna, introduziu importantes reformas na administração dos Estados Pontifícios, para diminuir os abusos dos poderosos e melhorar o nível de vida do povo, reformou as leis pelas quais se regia a nobreza, fez nova divisão das comarcas de Roma para maior eficácia administrativa, apoiou a agricultura com a introdução de novos métodos de cultivo, promoveu o comércio e perseguiu a usura até quase a fazer desaparecer.
Ao nível da cultura, fundou em Roma quatro academias para o estudo da antiguidade romana, da antiguidade cristã, da história da igreja e dos concílios e do direito canónico e da liturgia, estabeleceu um museu cristão e encarregou José Akemani de preparar um catálogo dos manuscritos da Biblioteca Vaticana, enriquecida com a compra de 3300 manuscritos da Biblioteca Ottoboniana.
A nível político internacional, estando bem relacionado com D. João V, rei de Portugal, concedeu-lhe um privilegio extraordinário com a faculdade, dada pelo breve Quod expensis, de 26 de Agosto de 1748, de todos os sacerdotes de Portugal, Espanha e respectivos domínios poderem celebrar três missas no dia dos fieis defuntos, privilégio que só em 1915 se tornou extensivo à Igreja Universal.
A pedido de Portugal extinguiu o arcebispado de Lisboa Oriental (13 de Dezembro de 1740), voltando a capital a ter só uma diocese , reforçou o poder de intervenção da coroa nos assuntos eclesiásticos, ao permitir que os bispados fossem providos por apresentação régia, e publicou o breve Immensa pastorum principisa, de 20 de Dezembro de 1741, que proibia, sob pena de excomunhão, a prática de atividades comerciais por parte das ordens religiosas , congregações ou quaisquer outras pessoas eclesiásticas e singulares.
Em 23 de Dezembro de 1748, concedeu a D. João V o título de «Rex Fidelissimus» (Rei Fidelíssimo).
Mais tarde, surgiram problemas com Portugal. O conde de Oeiras, Sebastião de Carvalho e Melo (futuro Marquês de Pombal), embaixador de Portugal em Londres e Viena, estabelecia contactos com a Maçonaria e urdia um ataque à Companhia de Jesus. Depois, já ministro de D. José I, ainda no pontificado de Bento XIV, entre 1751 e 1760, consegue desmantelar a florescente assistência inaciana em Portugal. Em 1757 houve um tumulto popular no Porto contra a Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro, instituída pelo Marquês de Pombal. A repressão foi sangrenta e os Jesuítas acusados como seus promotores.
Com o apoio de D. José I, o Marquês iniciou a sua campanha contra os Jesuítas na Santa Sé, acusando-os de comércio ilícito na América e de sublevarem o povo no reino. Bento XIV acredita nas acusações e nomeia o cardeal Saldanha visitador e reformador da ordem. O cardeal, sem qualquer investigação, publica uma provisão a dar como provadas as acusações do Marquês contra os Jesuítas.
Também procurou sanar os conflitos pendentes entre a Santa Sé e as cortes de Turim, Nápoles e Espanha.
O conflito da sucessão ao trono da Áustria (1742-1748), no qual estiveram envolvidas a França, Alemanha, Espanha e Áustria, foi uma das amarguras do seu pontificado.
No seu último ano de vida empreendeu a reforma dos Jesuítas, que já não concluiu porque, entretanto, faleceu.
Bento XIV fica na história da Igreja como um dos papas de maior prestigio.
Mostrou-se demasiado tolerante em relação a certos países, mas foi merecedor de idêntico apreço por parte de católicos e protestantes.
Como se diz no monumento erigido em Londres, em sua honra, pelo protestante inglês Lorde Walpole, foi «Monarca sem favoritos nem cortesãos e papa sem nepotismo, doutor sem orgulho, censor sem acrimónia».
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CLEMENTE XIII
Clemente XIII
(1758-1769)
O cardeal Razzonico, bispo de Pádua, foi eleito em 16 de Julho de 1758, com o nome de Clemente XIII.
O novo papa aprovou o culto do Sagrado Coração de Jesus e nomeou o sábio alemão Winckelmann como comissário das Antiguidades, o que lhe permitiu escrever a História da Arte na Antiguidade, obra básica para esta disciplina.
Condenou as ideias do racionalismo enciclopedista pelas suas «doutrinas falsas» e aprovou a condenação emanada da Sorbonne contra o Emile de Rousseau.
Alarmado com as injúrias contra a Santíssima Trindade, ordenou que em todos os domingos sem prefácio próprio se rezasse na missa o prefácio da Santíssima Trindade.
Voltaire e os enciclopedistas, dominando a intelectualidade europeia, mostravam-se inimigos dos Jesuítas, chegando Voltaire a escrever: «Quando destruirmos os Jesuítas, o nosso trabalho será mais fácil!» As forças apostadas na destruição da Igreja sabiam que o grande obstáculo a abater era a Companhia de Jesus, baluarte da ortodoxia e fiéis ao papa. A grande ajuda para a desejada destruição viria das cortes bourbónicas.
Em Portugal, o marquês de Pombal, como Clemente XIII não acedeu ao seu pedido de suprimir a Companhia de Jesus, chega a propor à França e à Espanha uma ação para se apoderarem dos Estados Pontifícios e obrigarem o papa a ceder. Choiseul, ministro de Luis XV, achou a ideia exagerada, preferindo esperar por um novo papa mais acessível.
O Marquês de Pombal não desiste e dá inicio a uma campanha contra os Jesuítas e, em 1750, acusados de uma sublevação dos índios do Paraguai, os missionários jesuítas foram deportados e encarcerados nos calabouços de Lisboa, como criminosos vulgares.
Em 1758 são acusados do atentado contra o rei D. José I e o Marquês manda confiscar todos os bens de 1100 jesuítas existentes em Portugal e desterrá-los como sediciosos, traidores e inimigos do rei.
O papa recebe-os carinhosamente e Pombal, reprovando-lhe a atitude, leva o governo português a cortar relações com a Santa Sé.
Quatro anos depois, o Parlamento francês suprime a Companhia de Jesus como perigosa para o Estado.
Em Espanha, acusados de um motim ocorrido em Madrid, em Março de 1766, Carlos III decreta, a 27 de Fevereiro de 1767, a expulsão de todos os jesuítas dos seus domínios e a usurpação de todos os seus bens, pelo que 6000 jesuítas foram obrigados a embarcar para os Estados Pontifícios.
Clemente XIII protestou junto de Carlos III, sem qualquer resultado, e o rei Fernando de Nápoles, filho de Carlos III, expulsou do seu reino, contra vontade, 500 jesuítas e o mesmo fizeram Malta e o ducado de Parma, governados por Bourbons. Como o ducado de Parma era feudo da Santa Sé, Clemente XIII interveio energicamente, mas as cortes de França, Espanha e Nápoles, com base num “pacto de família”, levantaram-se contra o papa exigindo uma satisfação. Este manteve-se firme e os Estados Pontifícios foram invadidos, com a França a ocupar Avinhão e o condado veneziano, enquanto tropas napolitanas invadiam Benevento e Pontecorvo.
Expulsos os jesuítas das nações citadas, estas procuraram a ajuda de Maria Teresa de Áustria para os imitar, mas ela recusou dizendo não ter motivos para persegui-los, pelo que os Bourbons enviam um memorando ao papa a pedir a extinção da Companhia de Jesus.
Clemente XIII pede que lhe apresentem acusações concretas, mas não obtém resposta, pelo que publica a bula Apostolicum munus, que aprova e confirma a ordem e envia uma nota aos núncios apostólicos a dizer «não poder explicar como é que as cortes bourbónicas persistem no triste empenho de acrescentar mais esta dor a todas as dores que já afligem a Igreja».
Faleceu devido a um ataque de apoplexia e foi sepultado em São Pedro, onde o seu sepulcro é uma obra-prima de Canova.
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Este Post era para ser colocado em 19-3-2013 – 10H30
ANTÓNIO FONSECA
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