quarta-feira, 20 de março de 2013

Nº 1594 - (3) - A VIDA DOS PAPAS DA IGREJA CATÓLICA - (92) - 20 de Março de 2013

Nº 1594 - (3)

BOM ANO DE 2013

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Caros Amigos:

Desde o passado dia 11-12-12 que venho a transcrever as Vidas do Papas (e Antipapas)

segundo textos do Livro O PAPADO – 2000 Anos de História.

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CLEMENTE XIV

Clemente XIV

Clemente XIV

(1769-1774)

O conclave teve 179 votações, com as cortes bourbónicas a pretenderem coagir os cardeais eleitores e o próprio imperador José II, da Áustria, conseguiu visitar incógnito o próprio conclave para o pressionar. Era necessário, diz-se, conseguir um papa que fosse inimigo dos jesuítas. O próprio cardeal Ganganelli teria dito aos seus companheiros do conclave: «(…) corresponde ao sumo pontífice o direito de aniquilar em boa consciência a Companhia de Jesus, com base nas leis canónicas e é desejável que o papa faça uso do seu poder para satisfazer os desejos das coroas».

E a verdade é que o cardeal Ganganelli, que na véspera obtivera 19 votos entre 47 votantes, foi eleito por unanimidade em 4 de Junho de 1769, tendo adotado o nome de Clemente XIV.

Homem piedoso, bom teólogo e canonista, foi facilmente manobrado pelos seus conselheiros e logo que eleito começaram as exigências dos monarcas absolutistas contra a Companhia de Jesus, pois mesmo depois da expulsão dos seus territórios pretendiam a sua supressão por parte do pontífice. O mais feroz era o Marquês de Pombal, ministro de D. José I, que escreveu contra os jesuítas uma obra intitulada Dedução Cronológica, sobre tudo quanto «dois séculos de queixas, de rivalidades e má-fé haviam juntado contra estes religiosos».

Clemente XIV ainda tentou protelar a decisão que lhe impunham, mas acabou opor ceder, expedindo a 21 de Julho de 1773 o breve Dominus ac Redemptor Noster Jesus Christus, que suprimia a Companhia de Jesus, a ordem que nos seus dois séculos de existência fora a defesa da Igreja.

Por toda a Europa, os Jesuítas exerciam, para além da prática da pregação, a quase totalidade do ensino médio e grande preponderância no superior. Só em Portugal, tinham 27 grandes colégios e uma universidade, com ensino inteiramente gratuito.

No Estado Pontifício, o geral e os seus assistentes foram detidos e encarcerados.

Na Prússia e na Rússia, estados não católicos, os Jesuítas não foram expulsos para que o sistema educacional não ficasse comprometido,.

A nível interno, Clemente XIV fundou o Museu Clementino, em Roma, modificou o regulamento do coro da Capela Sistina e foi protetor de Rafael Mengs e de Piranesi. Outorgou a Ordem da Espada de Ouro a Mozart, que esteve em Roma em 1770 e escreveu uma nova versão do Miserere de Allegri.

Portugal encontra-se ligado ao pontificado de Clemente XIV pela criação de diversas dioceses, quase artificiais, criadas pelo marquês de Pombal, como as de Beja, Pinhel e Portalegre, em 1770, a de Castelo Branco, em 1771, e a de Aveiro, em 1774. Estas dioceses viriam a ser extintas. A de Pinhel, em 1881, por Leão XIII, ficando anexada em 1882 à de Portalegre, e a de Aveiro, incorporada em 1881 na de Coimbra, só vindo a ter autonomia própria em 1938.

Clemente XIV faleceu, deixando no cárcere o geral da Companhia de Jesus e os seus assistentes.

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PIO VI

Pio VI

Pio VI

(1775-1799)

Depois de cinco meses de sede vacante o conclave elegeu, em 22 de Fevereiro de 1775, o cardeal Braschi, que tomou o nome de Pio VI.

O novo papa era um homem hábil, inteligente, simpático e de grande presença física.

Embora Espanha, Portugal e França tenham tentado impedir a sua eleição pela amizade que tinha aos Jesuítas, nunca, depois de eleito, revogou o decreto de dissolução ditado por Clemente XIV contra a Companhia de Jesus, mas mandou libertar o geral, Padre Ricci, prisioneiro no castelo de Santo Ângelo.

A pedido de Frederico II, permitiu aos Jesuítas conservar as suas escolas na Prússia e, por acordo com Catarina II, permitiu a sua continuidade na Rússia.

Começou o seu pontificado pela celebração do Ano Santo.

No aspecto interno, mandou drenar os terrenos pantanosos entre Terracina e Valletri, dando com isso grande impulso à agricultura. Sob a orientação de engenheiros competentes, 3500 trabalhadores conseguiram recuperar uma vasta zona de terreno arável.

Em 1789 inaugurou uma nova estrada de 50 quilómetros que conduzia aos pântanos drenados e às habitações construídas para os colonos.

Reorganizou as finanças, fomentou a indústria e embelezou a cidade com obeliscos e outras obras importantes, entre elas o Museu Lateranense, onde se recolheram os tesouros artísticos das ruínas e do subsolo de Roma.

Promoveu escavações arqueológicas, encontrando o túmulo dos Cipiões na Via Ápia, enriqueceu a Biblioteca Vaticana com  preciosos manuscritos, ampliou os jardins do Vaticano, empreendeu grandes obras na Basílica de São Pedro, criou um conservatório e apoiou as universidades de Ferrara e de Roma, introduzindo as cadeiras de Obstetrícia e de Cirurgia.

Atraídos pela sua cultura, diversos príncipes católicos visitaram Roma. O rei da Suécia dá-lhe conta da liberdade de culto concedida aos católicos nos seus domínios e pede um vigário apostólico para Estocolmo. Igual pedido é feito pelos Estados Unidos da América, que acabavam de se tornar independentes (1776).

Apesar de tão bons auspícios, este pontificado foi muito atormentado.

Logo na sua primeira encíclica, o papa fazia alusão ao crescente ateísmo e às suas dificuldades nas relações com o poder civil, cuja prepotência aumentara com a extinção da Companhia de Jesus.

Pio VI não restaurou a Companhia de Jesus, mas fez o possível por incutir aos milhares de Jesuítas espalhados pelo  mundo a esperança de renascer. Mandou que fossem libertados os que haviam sido encarcerados no pontificado anterior e celebrar exéquias solenes em honra do geral da ordem, o padre Ricci, que falecera em 24 de Novembro de 1775, na prisão, antes de poder ser libertado.

Em Portugal, por morte de D. José I, sucede-lhe D. Maria I, sua filha, que tira o poder ao Marquês de Pombal e manda libertar os Jesuítas que tinham sobrevivido a 18 anos de cativeiro.

Em 20 de Junho de 1778 foi celebrada uma concordata com Portugal. pelo breve Quamquam majoribus, de 18 de Agosto de 1789, concedeu Pio VI a D. Maria I autorização para reformar a Ordem de Cristo. No seu pontificado desapareceu em Portugal a antiga distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos para o efeito de provimento dos canonicatos. Pio VI foi padrinho do infante D. António Pio de Bragança.

Nas outras cortes bourbónicas continuavam as prepotências regalistas, medrava o jansenismo e o febronianismo e as novas ideias enciclopedistas, esforçando-se por descatolizar o ensino.

Alarmado com as decisões do imperador José II, da Áustria, que se arrogava atribuições do foro eclesiástico, chegando a publicar bulas de sua autoria, reduziu os bispos, suprimiu mosteiros e pôs todo o ensino nas mãos do Estado, Pio VI resolve ir a Viena conferenciar com  o imperador. Foi muito bem recebido pelo povo, o imperador mostrou-se receptivo a colaborar, mas o papa apenas conseguiu a abolição da obrigação de os bispos jurarem obediência e fidelidade ao imperador, o que foi muito pouco.

Na Toscana, o duque Leopoldo, irmão do imperador, intromete-se no campo eclesiástico, suprime mosteiros, fecha confrarias e legisla dobre procissões e cerimónias litúrgicas. Para consolidar os seus planos, mandou celebrar o sínodo diocesano de Pistoia, em 1786, onde o bispo, inimigo da devoção do Coração de Jesus, pretende introduzir ideias jansenistas. Pio VI intervém, condenando 85 proposições cheias de erros, pela bula Auctorem fidel, de Agosto de 1794.

Em 1789 rebenta a revolução Francesa. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, por ela votada em 29 de Agosto de 1789, constituiu a base doutrinal de todas as medidas tomadas pelas autoridades contra a Igreja e religião. Os bens eclesiásticos foram confiscados, os conventos fechados e as ordens religiosas suprimidas. A Igreja nacionalizada deixava de depender de Roma, sendo o clero francês obrigado a jurar a Constituição.

Pio VI protesta contra tal juramento, mas a sua bula condenatória foi queimada em público pelos jacobinos e o núncio foge de Paris. Pio VI escreve a Luís XVI uma comovedora carta chamando a atenção para os erros cometidos, mas o monarca, que pouco depois morreria na guilhotina, nada podia fazer para o ajudar.

Em 1796, o Diretório, que sucedera à convenção, lança Napoleão Bonaparte sobre a Itália, o qual, vencedor na Sardenha, entra em Bolonha, onde assina um armistício com o papa, comprometendo-se a não invadir os Estados Pontifícios, a troco de uma grande quantia em dinheiro.

No ano seguinte, perante nova ameaça de invasão, o papa assina novo Tratado de Tolentino com Napoleão e tem de lhe pagar mais 30 milhões, além de renunciar, a favor da França, a qualquer pretensão futura sobre Avinhão.

Um incidente em que morreu o general francês Duphot, quando atacava o povo de Roma, leva as tropas francesas a ocupar a cidade em 10 de Fevereiro de 1798, depois de um saque impiedoso, sendo proclamada a República Romana, que o papa se recusou a aceitar.

Perante o estado a que tudo tinha chegado, Pio VI chegou a pensar em refugiar-se em Malta ou em Portugal, onde D. Maria I tinha inaugurado a Basílica da Estrela, a primeira em todo o mundo em honra do Sagrado Coração de Jesus, mas não concretizou a ideia e foi preso pelo general Berthier, por ordem do Diretório, encarcerado no convento dos Agostinhos, depois na Cartuxa de Florença, com os franceses a levá-lo da cidade com medo que o raptassem, até que faleceu, completamente alquebrado, aos 82 anos, em Valence, no Sul,de França, onde estava prisioneiro e aí foi sepultado.

Só em 1802, depois da Concordata celebrada entre Napoleão e Pio VII, foi autorizada a sua trasladação para a Basílica de São Pedro, em Roma.

 

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Continua:…

Este Post era para ser colocado em 20-3-2013 – 10H30

ANTÓNIO FONSECA

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