Nº 1576 - (3)
BOM ANO DE 2013
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Caros Amigos:
Desde o passado dia 11-12-12 que venho a transcrever as Vidas do Papas (e Antipapas)
segundo textos do Livro O PAPADO – 2000 Anos de História.
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BEATO URBANO V
Beato Urbano V
(1334-1342)
Os cardeais eleitores pretendiam mais uma vez eleger um papa francês, e perante a recusa do cardeal Hugo Roger, irmão de Clemente VI, escolheram, em 28 de Setembro de 1362, o Abade de São Vítor, Guilherme de Grimoard, que tomou o nome de Urbano V, dizendo que o fazia porque «todos os papas que levaram este nome, foram santos».
Logo que foi eleito deu nova dinâmica à Cúria, exigindo mais brevidade no despacho dos assuntos e dando ele próprio o exemplo de atividade.
O seu pontificado ficou assinalado pelo envio de missionários para as Índias, China e Lituânia, pela pregação de uma nova cruzada, pelo apoio que deu aos estudos eclesiásticos e por diversas reformas que levou a efeito na administração da Igreja.
Depois de renovar a excomunhão de Inocêncio VI contra Pedro IV, rei de Castela, assassino de sua mulher e polígamo, autorizou Henrique de Trastâmara, seu irmão, a destroná-lo.
Em 1367, Urbano V achou que era a altura de voltar a Roma. Em 30 de Abril põe.-se a caminho de Marselha e em 19 de Maio embarca, acompanhado de 60 galeras que as principais cidades marítimas italianas tinham enviado ao seu encontro. Em 3 de Junho desembarcou em Corneto e em 16 de Outubro fez a sua entrada triunfal em Roma.
Os monarcas começaram a chegar à Cidade Eterna em sinal de cortesia. A rainha de Nápoles, o rei de Chipre, o imperador Carlos IV e, principalmente, João Paleólogo, imperador bizantino, fazendo uma solene abjuração do Cisma do Oriente, proclamando a sua fé católica e o firme desejo de se empenhar na união das duas igrejas. Infelizmente a desejada união não se deu, pois os Bizantinos não secundaram a ideia e os monarcas ocidentais não reagiram favoravelmente para debelar o perigo turco, que se verificou quando tomaram Constantinopla, as possessões de Veneza, bem como a Bulgária, a Sérvia e a Roménia, enquanto os ocidentais olhavam mais os seus interesses económicos do que as questões da fé.
A agravar a situação, a França e a Inglaterra, depois de uma curta paz, voltaram a envolver-se em guerra, pelo que, em 26 de Dezembro de 1370 o papa regressou a Avinhão. Aí, mudou-se para casa do irmão, por não desejar acabar a vida num palácio e por sua ordem as portas de casa estavam sempre abertas para que todos pudessem entrar livremente e ver «como morre um papa».
Faleceu num pobre leito, vestido com o seu modesto hábito monacal.
Urbano V foi um papa piedoso e austero, tendo-se empenhado em reformas necessárias e em acabar com os abusos na acumulação de benefícios e no absentismo de muitos prelados que, vivendo fora das dioceses, usufruíam as regalias do título sem se preocuparem com os problemas da sua função.
A ele se deve a instituição da festa da Visitação de Santíssima Virgem.
Distinguiu-se como patrocinador da cultura, auxiliando e defendeu com estatutos muitas universidades do seu tempo.
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GREGÓRIO XI
Gregório XI
(1370-1378)
Com exceção de dois italianos e um inglês, todos os cardeais eleitores eram franceses e a escolha, em 30 de Dezembro de 1370, recaiu num francês, o cardeal Pierre Roger de Beaufort, um diácono de 40 anos, de saúde precária, que foi entronizado a 5 de Janeiro de 1371 e tomou o nome de Gregório XI.
Mesmo sendo uma pessoa de bondade natural, mostrou-se enérgico ao declarar, logo após a eleição, que iria regressar a Roma. Não o conseguiu logo, pois só seis anos depois isso lhe foi possível.
Os estados Pontifícios, governados por franceses, revoltaram-se e Gregório XI atuou energicamente, lançando excomunhões e até mandando contra Florença um exército, por ele recrutado entre aventureiros e salteadores, que, à margem das suas ordens e ideias, cometeram desmandos e atrocidades terríveis.
Por essa altura, secundando as insistências de Santa Brígida da Suécia, deu-se a intervenção de uma jovem camponesa, a dominicana Catarina de Sena, a insistir com o papa para regressar a Roma: «Em nome de Jesus Cristo crucificado e da doce Virgem Maria, Reverendíssimo e diletíssimo pai em Cristo Jesus: a vossa indigna e pobre filha Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo no seu precioso sangue, vos escreve com desejo de vos ver como árvore cheia de doces e suaves frutos plantada em terra frutífera. Oh paizinho meu (babbo mio), doce Cristo na terra!… Peço-vos que procedais virilmente, seguindo a Cristo como vigário seu».
Mesmo conhecendo a santidade da jovem camponesa, os extraordinários dos místicos que Deus lhe concedera e aceitando com veneração e humildade as suas filiais advertências e exortações, Gregório XI não se decidiu a ir para Roma, pelo que Catarina de Sena resolve ir a Avinhão para lhe falar.
Depois de examinada a sua ortodoxia e virtude, foi recebida por Gregório XI, que, influenciado ou não pela jovem dominicana e pela sua veemência, resolve finalmente regressar a Roma e três meses depois, em 13 de Setembro de 1376, põe-se a caminho acompanhado de 13 cardeais e uma frota de várias fragatas de diversas cidades italianas. Em 17 de Janeiro de 1377 chega triunfalmente ao Vaticano e nesse mesmo mês concluiu-se a transferência completa da Cúria.
O regresso, contudo, não foi feliz, porque, a poucos dias depois, Roma começa a discutir a autoridade pontifícia e Florença, ainda com as queixas dos ataques sofridos, não quer sujeitar-se à Santa Sé.
Santa Catarina de Sena resolve ir àquela cidade para conseguir a paz, mas o povo enfurece-se e ameaça queimá-la viva. Catarina não se intimida, persiste e consegue o entendimento entre Florença e Roma, onde, entretanto. Gregório XI tinha piorado de saúde. Na tentativa de melhorar, na época de Verão, muda-se para Anagni, mas, meses depois, regressa a Roma ainda mais doente, falecendo aos 47 anos de idade.
Desaparecia o último papa francês, o pontífice que tirou o papado de Avinhão, depois de 67 anos e sete papas, terminando aquilo que os cronistas da época designaram por «cativeiro da Babilónia».
No que respeita a Portugal, ao suspeitar-se de que se tinham introduzido no país alguns erros de doutrina, Gregório XI emite, em 1376, uma bula para Agapito Colonna, bispo de Lisboa, em que o «encarregava, visto não haver inquisidores neste país, de escolher um franciscano, dotado dos requisitos necessários para o mister de inquisidor para que verificasse a existência de heresias e zelosamente as perseguisse e as extirpasse». Frei Martim Vasques foi o escolhido e é ele o primeiro reconhecido para este cargo em Portugal.
No fim do século XIV a Inquisição era quase nula em Portugal, sendo no século XV apenas uma questão fradesca, até ser estabelecida em definitivo.
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URBANO VI
Urbano VI
(1378-1389)
Depois de quase 70 anos de papas em Avinhão e no regresso a Roma, a eleição do novo pontífice era importante, mas os Romanos recusavam um papa francês, pelo que a eleição foi tumultuosa e acabou por dar origem a uma das questões mais discutidas da história da Igreja: o Cisma do Ocidente.
O conclave teve início em 8 de Abril de 1378, mas logo no primeiro dia foi invadido por homens armados, dificilmente expulsos, que continuaram pelas ruas gritando: «romano lo volemo» (queremo-lo romano).
Os cardeais eleitores, pressionados pelos Romanos, não perderam tempo e no dia seguinte optaram pelo arcebispo de Bari, um napolitano chamado Bartolomeo Prignani, que escolheu o nome de Urbano VI e que foi sagrado no dia 18 do mesmo mês.
Os tumultos continuaram e houve quem sugerisse a Urbano VI que renunciasse, mas ele mostrou-se firme, respondendo: «nem que visse mil espadas contra mim não renunciaria».
A verdade é que havia dúvidas quanto à legalidade da eleição, pois os cardeais podiam ter votado coagidos pelo medo, mas depois de interrogados, 12 dos 16 cardeais eleitores declararam ter votado de livre vontade. Mesmo os cardeais que tinham ficado em Avinhão, não comparecendo ao conclave, ao serem notificados da eleição, enviaram saudações e a sua adesão a Urbano VI, o que prova a validade da eleição.
Existe um documento de grande valor a confirmar a validade. Uma carta enviada de Roma, com data de 8 de Maio de 1378, dirigida ao nosso rei D. Fernando (como terá sido dirigida a todos os monarcas europeus), assinada por todos os cardeais eleitores a comunicar a eleição do arcebispo de Bari como papa. Diz assim : «(…) Por esta razão, nos pareceu informar-vos de que nestes dias se obrou na Santa Igreja Romana, para que não deis crédito a outras coisas, se acaso vo-las escreverem e disserem: e também para que a vossa consciência, informada por esta nossa atestação, sossegue e descanse sabendo a verdade (…)
Ilustrados, como plenamente cremos, por aquele Divino Luzeiro que não conhece ocaso, demos livremente beneplácito ao arcebispo de Bari (…) e o elegemos concordemente para o alto da grandeza apostólica (…)»
O certo é que esta eleição de Urbano VI deu origem, e muito por sua culpa, ao Cisma do Ocidente, pois Urbano VI, uma vez entronizado, mostrou-se intransigente, intratável, cruel e até vingativo. Com fúrias de renovador, começou por indispor a Cúria e os cardeais que o tinham elegido, para os quais teve atitudes irascíveis e palavras duras.
Perante isto, 13 cardeais alcançaram Anagni em segredo e aí, sob a proteção de gascões e de navarros, declararam ter sido forçada e nula a eleição de Roma e, em 20 de Setembro de 1378, elegeram com o nome de Clemente VII um antipapa que fixou residência em Avinhão.
A Igreja tinha dois papas e o mundo católico ficou algo perturbado. Fiéis a Roma estavam a Inglaterra, os países escandinavos e eslavos, a Itália, Hungria, Polónia e a Flandres. A França, a Escócia e o reino de Nápoles eram a favor de Clemente VII. A Alemanha estava dividida: a Norte com Urbano, o Sul com Clemente. A Espanha começou com Urbano, mas, por pressões da França, passou-se para Clemente, e em Portugal foi o inverso, pois o rei D. Fernando começou com Clemente, aceitando até que transferisse o bispo de Silves para o bispado de Lisboa, mas por pressão dos Ingleses passou a obedecer a Urbano VI, apoiado por vários bispos, tendo à frente o bispo de Braga, D. Lourenço Vicente, que se reuniram no princípio de 1383, em Santarém, para confirmarem esta adesão.
O povo português também, tomou partido e a tal ponto que o bispo D. Martinho – o tal transferido pro Clemente VII para Lisboa – , de origem espanhola, foi assassinado pelos populares, atirado do alto duma das torres da Sé e mutilado com o pretexto de ser cismático e de obediente ao antipapa.
Morto D. Fernando e aclamado o Mestre de Avis, todos os prelados assinaram a ata da sua eleição nas Cortes de Coimbra, em 6 de Abril de 1385, declararam obediência a Urbano VI. Esta atitude terá influído no reconhecimento de D. João I por parte de Urbano VI.
O cisma levantava grandes problemas. Havia dois papas e duas cúrias. Cada um dos papas mantinha uma corte que custava dinheiro aos fiéis. cada qual excomungava o outro e os seus adeptos, o que significava que toda a Cristandade estava excomungada.
Havia lutas nos Estados Pontifícios. Numa conjura em Nápoles, envolveram-se vários cardeais, mas a revolta foi sufocada por Urbano VI, que se mostrou cruel. Mandou prendê-los e depois foram mortos no cárcere.
Entretanto, Clemente VII consegue arranjar um exército de aventureiros contra Urbano VI, mas as milícias fiéis ao papa conseguem vencer e Urbano VI pôde fixar residência no Vaticano.
Os últimos anos de vida de Urbano VI foram terríveis. Capturado pelo rei de Nápoles ficou prisioneiro em Nocera, conseguiu evadir-se, mas o seu desequilíbrio mental agravou-se e quando morreu em Roma, mesmo os que lhe reconheciam a legitimidade se sentiram aliviados.
Durante o seu pontificado deu-se o ingresso da Lituânia no seio da Igreja Católica, com a conversão de Ladislau em 1386 e em dieta reunida em Viena, no ano seguinte, o cristianismo, é declarado religião do Estado, recebendo o povo, em massa, o batismo.
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Este Post era para ser colocado em 2-3-2013 – 10H30
ANTÓNIO FONSECA
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